sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Quando o aniversário vira um pesadelo!

Deveria ser só mais um sábado qualquer na rotina de um grupo de amigos. Estavam todos reunidos em um bar aproveitando a noite. Bebendo para soltarem as besteiras habituais que não tem coragem de falar quando estão sóbrios. O propósito é posteriormente colocar a culpa no pobre álcool.

No entanto, aquele período noturno foi bem mais marcante do que se poderia prever. Era sabido que naquela data se comemoraria o aniversário do Edir. Certamente ele apareceria em algum momento no recinto. Este seria o ápice daquele fatídico final de semana.

A noite estava agradável. O céu estrelado e o clima ameno servem de motivação para as pessoas saírem de suas residências em uma folga.

Passaram-se alguns bons minutos e eis que Edir chegou ao bar. Estacionou sua moto, atravessou a rua e foi direto à mesa, onde estavam os seus companheiros. Alguns já o parabenizavam por mais um ano de vida. Enquanto era saudado, o aniversariante pede um minuto de todos e faz um convite:

"Como todos lembraram hoje é meu aniversário. Vamos lá para casa comemorar. Comprei bolo, refrigerante e cerveja. Vamos passar a noite lá. Vai ser louco."

A aceitação foi unanime. Pediram a conta no bar e se mandaram para o domicílio de Edir. A empolgação era tanta que pelo celular avisaram outros amigos sobre a mudança do local do rolê. 

Todos chegaram ao destino combinado.Havia mais de 30 pessoas! Tinha uma retardatária que só apareceria no final. Mas depois falaremos deste ser.

Edir vivia sozinho. Uma casa simples, porém aconchegante. Ao adentrar a residência já estava na sala. Nela havia uma mesa com o bolo de chocolate. Os convidados embriagados já foram na geladeira atrás da cerveja. Havia várias!

Após cada um estar com a sua lata em suas respectivas mãos e próximo da mesa foi dado início ao famoso 'parabéns'.

O canto era empolgante e em voz alta. Embriagados, faziam trocadilhos pornográficos com a letra.

Enquanto terminavam a homenagem, se ouviu uns barulhos na porta. Alguém batendo com força.Inicialmente ninguém dava ouvidos. Na sequência bateu mais e mais forte. Silenciando o 'coral'.

Um dos convidados foi atender. Era uma vizinha de Edir. Já idosa. 

"Por favor, gente. Já passou da meia-noite! Eu quero dormir. É muito barulho. Mais respeito com os vizinhos.Silêncio!"

Crédito:http://ideiaclip.blogspot.com.br/2011/05/desenho-de-bolo-de-aniversario.html


Os visitantes estavam aceitando a ordem da senhora, quando o anfitrião da casa foi, com rispidez e 'sangue nos olhos' em direção a porta. Apontou o dedo indicador no rosto da anciã e com uma voz grossa e raivosa proferiu:

"SILÊNCIO O CARALHO!!!! Quinta-feira tinha gente na sua casa até altas horas da madrugada, com música alta e não me deixando dormir!!! Eu tinha que trabalhar no dia seguinte. Hoje é meu aniversário e não vai ter silêncio PORRA NENHUMA!!!."

A agressividade de Edir assustou os presentes. Ninguém esperava uma reação inflexível e odiosa. Já a idosa não se intimidou e respondeu ao aniversariante:

"Olha como fala comigo!! Você está exagerando quanto a quinta-feira. Vieram apenas os meus familiares e ficaram pouco. Se você tivesse sentido algum incômodo que viesse falar comigo. Como estou fazendo agora."

Edir retruca:

"Por acaso tem conversa com você? Claro que não. Pois, você acha que manda aqui. Que manda no mundo, né? Esta festa não vai parar mesmo! Se acha ruim o problema é seu."

Em um dado momento, dois convidados seguram Edir e tentam puxá-lo para dentro de casa com medo que ele agredisse a pobre velhinha.

No entanto, Edir queria briga. Bate-boca. A velhinha não se entregava. 

Um dos amigos do aniversariante o questiona:
"Vai parar? Acalme-se."

A resposta do anfitrião foi positiva. O problema é que enquanto soltavam Edir apareceu um casal que morava ali próximo e veio ver o que ocasionou o barraco.

A senhora contou ao dois seres o episódio e explicou que o rapaz estava alterado. 

Edir escutou e novamente, aos gritos, começou a ofender a velha:

"VAI SE FODER!! Você acha que manda no mundo, né? Sua folgada!"

O casal se intromete na discussão e a mulher inicia uma reclamação a Edir e sem querer coloca mais 'fogo no circo'.

"Edir, todo mundo te conhece faz tempo e conhece essa senhora. Sabemos que ela não é de fazer essas coisas. Se teve festa na quinta-feira não nos incomodou. Foi tudo tranquilo. Tudo normal."

Edir, inspirado, não deixa barato.

"Vai tomar no seu cu. Se não te incomodou é problema seu. Agora some da minha casa, pois ninguém pediu a sua opinião."

Em seguida, o próprio aniversariante 'lacra'a porta na frente dos três. O esposo da mulher ofendida se mostrou irritado com o desrespeito a sua cônjuge e proferiu palavras obscenas ao próprio Edir.

Edir, claro, retrucou.

No entanto, enquanto tudo parecia tender a se acalmar se escuta um barulho. Era o rapaz, marido da mulher que foi ofendida, que tacou com muita força  uma pedra em um vitrô na casa de Edir.  Foi com tanta raiva que quebrou o vidro. 

Em seguida, um outro barulho. O mesmo marido atirou uma outra pedra e quebrou ainda mais o vidro.  Felizmente a pedra não acertou nenhum dos convidados. Àquela altura estavam todos com a adrenalina alta e temendo o pior.

O valentão e dono da casa, já com a noção do perigo perdida, abriu a porta e os chamou de volta. Os três estavam próximos da calçada.  

"Ô seu bosta, vai quebrar o vidro da casa da sua mãe. Me pega aqui se você é homem!!"

Aquelas frases mexeram com o brio do rapaz que se sentiu intimado e com a masculinidade posta em dúvida. No entanto, a senhora e a outra mulher tentavam segurar o rapaz, enquanto os convidados evitavam que Edir saísse da residência.

Enquanto isso acontecia, apareceu um outro vizinho. Um senhor de meia-idade. Apareceu armado. Com uma espingarda!

Aquilo assustou a todos. O tal ser colocou a espingarda em pé, sustentada pelo chão e fez uma ameaça: 

"É o seguinte. Ou para isso agora ou a situação vai piorar! Meu pai sofreu um infarto esses dias e não pode ter perturbação. Ele já acordou, está assustado com os gritos e com os barracos. Espero que eu não tenha que dar um fim nessa história."

A intimação fez todos ficarem em silêncio. Quase. Edir tentou proferir algumas palavras, mas um dos convidados pôs a mão na boca e impediu que o infeliz ofendesse o cidadão armado.

Em seguida, o homem armado se retirou e agradeceu a compreensão de todos. Aos restantes foi selado um acordo de paz. Os vizinhos voltariam para as suas respectivas casas e os convidados saíram do local. Não havia mais clima para festividade.

 Enquanto cada um iria para seu respectivo veículo, Edir teve um surto e começou a gritar no bairro.

"AINDA VAI TER VOLTA!! VOCÊS FERRARAM COM O MEU ANIVERSÁRIO. QUE O DIABO CARREGUE TODOS VOCÊS PARA O INFERNO."

Edir havia extrapolado qualquer limite de civilidade. Isso fez com que um dos convidados, alto e mais forte o segurasse por trás e desse um mata-leão. Ali foi uma intimação para que ele encerrasse o assunto.

"Edir ou você cala a boca ou eu te apago. Escolhe."

O aniversariante preferiu o silêncio e o empurraram para um dos carros.  O combinado era que iriam se encontrar em um posto de gasolina.

Chegaram ao local e alguns, no meio daquela confusão toda, lembraram de pegar as bebidas e inclusive o bolo!!  Sentaram no chão mesmo, comeram e beberam até o fim da noite.  A adrenalina já havia diminuído e alguns já começavam a comentar e rir de toda a situação. 

Lembram no início do texto que informei que havia uma convidada atrasada? Então, quando esta apareceu,se assustou ao ver uma senhora, um carro de polícia e a casa do aniversariante vazia e com o vitrô quebrado! Chegou no final de todo o barraco.

A motorista do veículo foi até onde estava a autoridade e perguntou sobre o ocorrido. A velhinha, que resolveu chamar a polícia, após o incidente explicou.

"Menina, você não soube? Seu amigo ficou fazendo festa até altas horas da noite, eu fui pedir silêncio e ele quase me bateu. Acordou toda a vizinhança! Quer saber mais? O policial inclusive disse que encontrou drogas ilícitas, acredita?"

A garota ficou incrédula com o que tinha escutado. Não imaginava que tudo isso havia acontecido.Em seguida recebeu uma mensagem no celular de um dos convidados informando aonde estavam. Ela achou melhor ir encontrar os amigos. 

Obs: história inspirada em fatos reais.

sábado, 7 de outubro de 2017

A fila, a subida, a corneta, o tiozão e a derrota

Prólogo: Para cada 10 pessoas que se pergunta se gostam de ficar em uma fila, as 10 irão dizer que odeiam. Muitas ficam entediadas, perdem a paciência, querem entender porque a fila não anda, pensam nos compromissos que tem a fazer ainda no mesmo dia e etc.

Óbvio que comigo não é diferente. É terrível estar nessa situação.

No entanto, em uma viagem minha, ao estar em uma fila interminável, eu acabei me divertindo. Muitos fatos curiosos aconteceram. Claro, virou história para o blog!!

Confira:
Toda viagem que faço para uma cidade grande não pode faltar, no meu roteiro, uma ida para um estádio de futebol.De preferência com jogo. Visitar uma cancha quando não tem partida é igual ir para um salão de festa sem festa.

Quando estive no Rio de Janeiro o principal evento futebolístico que iria ocorrer era Botafogo x Vitória, no Nilton Santos, pelo Campeonato Brasileiro. Inicialmente a peleja estava agendada para as 11h. Depois passou para as 16h. O que é ótimo. Jogo pela manhã, aos domingos principalmente, deveria ser crime inafiançável. Exageros a parte...lógico que eu iria para o Engenhão, independente do horário. Cheguei a receber o convite de 3 pessoas (uma delas não pode ir).

Fui ao local do confronto, de carona com um amigo meu jornalista, Plínio.

Carro estacionado no setor norte do Engenhão, o periodista indicou-me onde era o setor leste para encontrar uma minha amiga (Aline) com quem também havia combinado de ir ao jogo.Naquele momento, ela, sócio-torcedora, através das redes sociais, me comunicou que já estava dentro do estádio. Plínio ficaria no setor destinado aos jornalistas.

Eu, caminhando, fui comprar o meu ingresso. Ali iniciou um calvário. Não só meu, como de muitos botafoguenses que queriam incentivar o Alvinegro no duelo contra os baianos.

Os organizadores pediram para formar uma fila.Fila formada e estava enorme!
Fila!


Um sol de rachar e uma fila quilométrica para encarar. O relógio anotava 15h50. Faltavam dez minutos para o árbitro mandar a bola rolar.Claro que percebi que iria perder o início do duelo. Já me conformei. Estava 'preso'na fila e querendo saber em que momento eu iria adquirir o meu passaporte para adentrar em mais uma cancha na minha vida.
Mais fila!
Como manda a tradição, toda fila imensa tende a não andar. Aquele sol de rachar, as pessoas em pé e nada de fluir o movimento. No local em que eu estava, só via um monte de fardas do Alvinegro e nada de enxergar as bilheterias. Para trás, via mais cabeças e não via o final daquilo. Vai saber quantos metros estava aquela aglomeração de gente.

Não demorou para que a impaciência tomasse conta geral do público.

- Porra, 'mermão', que horas nós vamos entrar? Que merda!

O trecho acima foi repetido, com algumas mudanças no vocabulário, várias vezes.

Poucos minutos depois, aparece um torcedor que vinha do começo do 'engarrafamento', tentando convencer um por um a desistir de assistir a partida.

-Se eu fosse vocês, voltava para casa! A fila não anda. Tem bilheteria fechada e está tudo enrolado lá na frente. Eu não vou ficar aqui. Façam o mesmo!!

Poucos desistiram da batalha. A maioria ficou.

Confesso que eu fiquei na dúvida sobre qual decisão tomar. Entretanto, para voltar, ficaria difícil e caro. Também pensei que possivelmente poderia não ter a chance de retornar ao Engenhão tão cedo. Outra situação é que de fato eu nunca havia estado em uma fila tão grande para um jogo de futebol. Soube de algumas situações apenas pela TV. Por fim, a curiosidade de saber em qual momento eu conseguiria 'cruzar a fronteira' foi mais um argumento que me fez seguir plantado ali por uns bons minutos.

De repente se escuta gritos vindos dentro do Estádio. Logo todos tentam identificar. Foi gol? Gol de quem? Um pergunta para o outro. Outros consultam o celular para saber se já havia a informação. Até que foi noticiado que os soteropolitanos haviam feito 1 a 0 com David.

Tristeza no lado de fora. Eu recebia mensagem do povo de dentro me informando do tento rubro-negro. Respondia dizendo que ouvi os gritos que vinham do Nilton Santos.

Na sequência, um grupo de botafoguenses atrás de mim inicia um papo de torcedores.

- Será que vamos perder hoje? O Roger é desfalque até o fim do ano e depender do Brenner vai ficar difícil.

- Esse Brenner jogava bem no Inter. Fazia muitos gols lá.

-Mas o Inter tem o D'Alessandro na armação das jogadas. Até eu faria gol.

Alguns minutos depois, ouve-se novamente um grito vindo da cancha. Todos tentam identificar o que é.

Sim, gol de empate. Quem fez? Brenner.

- Brenner! nunca critiquei.

A frase acima foi dita pelo adepto que o difamou e que não confiava nele.

O cotejo já estava nos 25 minutos.

Na fila, algumas pessoas estavam cada vez mais impacientes. Procuravam sinal de internet para acompanhar o jogo em algum tempo real, outros tentavam sintonizar em rádios e alguns saiam da fila para procurar uma TV que transmitisse o jogo.

Quem estava adorando aquele tumulto eram os ambulantes. Aproveitavam para tentar lucrar um pouco mais.

Uma jovem passava com o seu isopor no ombro e anunciava:

-Olha a cerveja gelada! Geladinha. Alguém vai querer?

Pouco depois, ela se aproxima de mim e oferece o produto etílico e eu em tom de brincadeira, respondo:

- Eu quero ingresso. Não tem?

Ela apenas sorri.

Eu até estava com vontade de tomar cerveja. No entanto, 'breja' dá vontade de urinar e se isso acontecesse eu estaria encrencado, pois sozinho na fila perderia o meu lugar. Então, não podia usufruir desse luxo.

Enquanto isso, em mais uma roda de botafoguenses o assunto foi o vice-campeonato da Copa do Brasil do Flamengo dias antes. O goleiro Alex Muralha foi eleito o vilão do revés, pois nas cobranças de pênaltis pulou todas pelo lado direito. Além de ter sido displicente e mostrado muitas vezes para o batedor, em qual canto se jogaria. Uma estratégia de jogo como definiu o arqueiro após a derrota no Mineirão para o Cruzeiro.

- Aquele Alex Muralha é muito ruim. Que horrível. Pulou do mesmo jeito e no mesmo canto!

- Comemorei aquela derrota como um título. O Flamengo não podia ser campeão. Não merecíamos isso.

-O Flamengo é um time que tem, em toda a sua história, apenas um ídolo. Zico. Vive disso até hoje.

-Concordo, já nós temos vários e vários ídolos.

-Não só temos vários, como o maior jogador da história do futebol jogou no Botafogo. Garrincha.

- Sim. Sem dúvida (umas 4 pessoas concordaram).

- Mas o melhor do mundo não é o Pelé? (se atreveu um deles a discordar)

-Pelé, o CARALHO (a ênfase foi grande). Ele só ganhou três Copas do Mundo, porque tinha um time todo de craques. O Garrincha em 62 ganhou sozinho aquela Copa.

-Que Pelé, o que. Pelé o meu pau (isso dito por uma menina!)

Já se passava dos 30 minutos da etapa inicial quando um torcedor pegou o celular e começou a gravar um vídeo pelas redes sociais, mostrando todo o descaso. Aos gritos, ele protestava:

- Olha isso aqui! Que vergonha, hein, diretoria? O pessoal do marketing, da gestão, não podem deixar isso acontecer. O jogo em andamento e essa fila imensa. Todos aqui pelo Botafogo!!

Ele passou com o celular próximo a todos as 'vítimas', inclusive a mim e eu dei um 'tchauzinho' (se alguém achar a publicação me avisem).

Na minha frente, havia um pai com um casal de filhos. Todos fantasiados de botafoguenses. As crianças (não deviam ter mais que 12 anos) lamentando o fato do Botafogo não mandar mais os jogos na Ilha do Governador (onde a família residia e era mais perto para ir) e sim no Engenhão. Por ser mais próximo de onde viviam, conseguiam comprar os bilhetes com antecedência. Disseram que nunca tinham passado por isso antes.

O relógio mostrava que a partida estava por volta dos 40 minutos. O local onde me encontrava na fila já estava próximo da bilheteria. Por ali, um cambista passou me oferecendo ingresso (com policiais por perto).

O relógio que dizia aos torcedores quantos minutos perderam na fila. Eu entrei um pouco depois das 16h42


- Ô jovem, não quer um ingresso agora? Vendo por R$60,00.

Neguei, pois achei muito caro para ver apenas o segundo tempo.

-Então cobro R$50,00. O que acha?

Novamente disse que não queria. Em seguida, ele foi embora, pois o próximo valor mais baixo que ele iria fazer já era o que ia pagar para entrar.

Um dos momentos de mais alivio foi quando um segurança me chamou e falou para eu escolher uma das cabines para esperar a minha vez de adquirir o meu ticket. Sai da fila única e escolhi a cabine 10.

Depois de uns 5 minutos finalmente chegou a minha vez de comprar o ingresso!! Uma inteira.

Nem acreditei quando peguei o ingresso. Aquela mistura de felicidade com alívio foi tanta que comemorei com pessoas ao meu redor: 'CONSEGUI. CONSEGUI. VAMOS LÁ, PESSOAL!! VAMOS CONSEGUIR ENTRAR'.  Todos me cumprimentavam e felicitavam-me.

Fui em direção ao setor leste superior. Coloquei meu ingresso na maquinha para validar a minha entrada. Vale ressaltar que fui revistado por uma mulher. Não me recordo disso ter acontecido outra vez na minha vida.

Em seguida olhei para a tal leste superior e vi o quanto ainda teria que subir para chegar lá. A subida era igual aqueles estacionamentos de 4 ou 5 andares de shopping. Só que subir tudo a pé. Confesso que deu um desânimo. Mas fui.

Subi, subi, subi....e cheguei!Vi o gramado vazio. O jogo ainda estava no intervalo. Agora a terceira e a última missão: achar a Aline.

Era nítido ver o quanto de pessoas ao meu redor estavam procurando seus amigos e ao olhar tanto para cima como para baixo se notavam seres no celular, tentando apontar para um e para outros onde estavam.

O que me incomodou no Engenhão é que os setores que separam umas fileiras de cadeira de outras era muito estreito. Não dava para passar.

Tentava manter contato com a minha amiga e ela tentava me dizer em que local da arquibancada ela estava. Quem disse que eu a achava? Tentava ligar e só caia a ligação.

Nesse período, foi possivelmente o único momento em que eu de fato perdi um pouco a paciência. Não acreditava que ainda tinha que passar por isso.

Enfim, tentei ligar pela terceira vez e a chamada rendeu! Era o celular numa orelha e a mão na outra. Para abafar os gritos da torcida, pois os jogadores já voltavam do vestiário.

-Olha, Léo, eu estou te vendo.Eu estou umas fileiras mais abaixo de onde você esta. Você está com uma roupa cinza e com a mão na orelha.

-Isso, mas eu não estou te vendo.

- Estou aqui (nesse meio tempo os gritos da torcida já incomodavam bastante, enquanto Aline descrevia o lugar em que estava).

- Ok, vou tentar achar.

- Aqui...vem para cá...mais para cá, você está chegando.

Nisso, saiu pênalti para o Botafogo.Gritaria geral nas arquibancadas.

No entanto, foi nessa hora que consegui avistar minha amiga. E fiz aquele pedido chato em um momento importante do jogo. Licença para chegar até o meu assento. Sorte que havia um vago perto da Aline. Ai tive que passar espremidamente por umas 5, 6 pessoas. Constrangedor. Sentei. Antes de cumprimentar minha amiga, saiu o gol de empate.

Gol é gol. Comemorei! Tinha um tiozão do meu lado que eu o abracei!!Na hora da comemoração, umas das coisas mais legais é abraçar quem você não conhece. Compartilhar uma felicidade com um desconhecido. Momentos que só um gol pode proporcionar.

Após cumprimentar minha amiga e por brevemente o papo em dia, começo a olhar o jogo (eu nem sabia direito o que estava acontecendo).

O tal do tiozão que falei acima era a grande figura da arquibancada. O 'coroa' tinha o cabelo grisalho, uma barriguinha que é normal de quem está na meia-idade, camisa simples, bermuda e chinelo. Bebia, fumava e cornetava os jogadores. Seus principais alvos eram o lateral-direito Luis Ricardo e o meio-campista Leo Valencia.

-Ei, Jair (técnico) coloca o Jéfferson (goleiro reserva) na lateral-direita! É muito melhor que esse Luis Ricardo.

- Não vai tirar esse Luis Ricardo, não? Até quando vamos aguentar ele?

De repente, o ala pega a bola e parte para o ataque. Finta um atleta do Vitória e eu escuto:

-Isso, Luis Ricardo. Tu é bom!

O lateral passa por mais um adversário e novamente escuto:

-Luis Ricardo tu é bom!! tu é bom.

Fominha, o ala tenta driblar um terceiro e perde a bola. A corneta surgiu:

-Luis Ricardo tu é bom....tu é um bom filho da puta!!!!

Risos gerais.

-É, ué. Ninguém deixa eu terminar de falar (rindo sarcasticamente)!

Enquanto o jogo seguia, o tiozão chama um menino (no máximo 10 anos) próximo a ele e pergunta:

- Qual é o seu time?

-Botafogo!

-Viram (tentando falar pras pessoas próximas a eles)! Botafoguense. Ele era flamenguista!! flamenguista!Eu o converti pro Botafogo!!

Posteriormente, o tiozão pega mais um cigarro. Eu, em tom de brincadeira, pergunto se ele estava muito nervoso com o jogo.

- O Botafogo sempre me deixa assim. Hoje já foi um maço de cigarro!

Parecia que ele ia advinhar o que ia acontecer e quem seria um dos carrascos daquela tarde.

-Olha o Léo Valencia...com esse tamanho (pequeno) querendo partir para o ataque. Assim não dá. Esse anão não vai resolver o jogo.

O chileno tem 1,68 m.

Novamente, Leo Valencia pega a bola e tenta ir para o ataque, pela linha de fundo.

- Olha ai, ele tentando de novo! Vai, vai....e não foi...perdeu a bola.

Eu quando estou viajando e vou a um jogo sempre fico torcendo para o time anfitrião. Troco de time por 90 minutos. É pela diversão. Gosto disso e nunca tive problemas.

Não recordo exatamente o que houve em uma jogada do Alvinegro e eu cornetei um atleta e disse:

- O que foi isso? Meu, não dá para fazer essa jogada!

De repente, o tiozão vira para mim e pergunta:

-Tu é 'paulixta'?

Fico surpreso e respondo que sim.

Ele ri e explica:

- Tu disse a palavra 'meu' e deu para perceber. Carioca não usa esse termo. Qual time você torce?

Respondi que para o São Paulo.

Em seguida, ele traga o cigarro, ri sarcasticamente e me fala:

- Ano que vem vai jogar a segunda divisão!!

E seguiu rindo.

Eu, no meio de uma torcida toda botafoguense, apenas fiquei com aquela cara de tacho.Não podia ter outra reação.

No final da peleja houve uma tragédia. Um final de história triste. André Lima, com um passado bem identificado com o Glorioso, empata a partida aos 44 minutos.

Dois minutos depois, Leo Valencia revida uma falta sofrida por Ramon e acaba expulso. O tiozão claro, ficou bravo, com a atitude do chileno.

Aos 49 minutos, Danilinho anota o dele, o terceiro do Vitória e o que garantiu o triunfo do Rubro-Negro.

Para tristeza geral no Engenhão. Uma tragédia. Um momento chato de presenciar em estádios é a derrota de um time mandante. Fica um clima de velório.

O tiozão se despediu de mim e foi embora.

Assim como na entrada, a saída era a mesma. Logo descer todo aquele labirinto.Já na parte de fora do estádio escutava alguns comentários.

- Não acredito que perdi um churrasco pra vir aqui e ver o Botafogo perder.

-É a segunda vez que uso essa camisa do Botafogo em dia de jogo. Dois jogos e duas derrotas. Agora vou deixá-la guardada.

-Tem coisas que só acontecem com o Botafogo.

Sim, a última frase foi dita. Eu escutei esse chavão.

Mesmo com o placar ruim para os cariocas, foi legal ver aquele 'mar de gente' vestindo as cores Branco e Preta da equipe de General Severiano. Pessoas jovens e velhas. Muito marcante em uma cidade onde a maioria é torcedora do Flamengo.











sábado, 9 de setembro de 2017

Traumas e sequelas do Buracão

Era uma praça suja,feia e abandonada.Seu formato lembrava o de um buraco. Por isso o apelido Buracão.

No local havia muito lixo e aliado ao cheiro ruim fazia parecer um esgoto a céu-aberto.

Entretanto, o Buracão era um lugar no mínimo curioso para algumas crianças que moravam ali perto. Uma rua pacata e pouco conhecida na cidade. Isso há 20 anos. Naquele período em uma dessas andanças pelo lugar um menino, por uma pequena teimosia do próprio (ele nega), acabou levando um tombo feio. Machucou-se. Não só fisicamente, como psicologicamente.
Buracão atualmente!

Até hoje, já adulto e casado, ele se recorda desse dia. Quando está bêbado gosta de lembrar do episódio. O quanto gostaria de ser ajudado pelos seus amigos, mesmo eles não tendo culpa de nada. Inclusive o pai dele já avisou que o próprio acidentado foi o responsável pelo ocorrido.

Após alguns goles de cerveja e wisky, Barnabé, resolveu contar detalhes daquele fatídico dia e que virou história para este blog!!

Confira:  
Parecia ser um final de semana rotineiro em que meninos de 11 anos se encontram, no período da tarde, para brincar.

Josefino, que morava em um prédio em frente ao Buracão, era o anfitrião da reunião que contava com mais 3 integrantes. Um deles era Barnabé.

Em um dado momento, um dos rapazes teve a ideia de jogar bola na rua. Todos concordaram.

Inicialmente a brincadeira era apenas toque de bola. Após alguns minutos, Barnabé, quis fazer uma graça, chutou a pelota com força e o destino foi o Buracão.

Havia duas opções para buscar o objeto redondo: dar a volta na pracinha e descer pela entrada principal, o que seria mais demorado, mas mais seguro. A outra seria descer pelo barranco que era mais próximo de onde estavam os garotos, mas mais arriscado e perigoso.

Lugar onde havia o tal barranco e que traumatizou uma criança 


Outra dúvida que pairou era saber quem iria cumprir a tal missão. De acordo com Barnabé, Josefino afirmou que quem havia chutado a bola no local deveria resgatá-la.

"O Josefino havia falado que eu deveria ir. Então eu fui. Acho que escolhi ir pelo barranco porque era mais próximo de onde estávamos e também tinha aquela coisa de ser uma aventura. O barranco era bem alto e mal tinha onde se apoiar", relembrou Barnabé em entrevista exclusiva a este blog.

Mal sabia o pobre menino que aquela opção seria um erro e ficaria marcada para sempre em sua vida. O coitado levou um tombo histórico.

"Eu comecei a descer. Lembro que era só barranco e quase não tinha onde apoiar. Poucos galhos. Fui descendo devagar. Bem devagar. Mas foi inevitável.Uma hora tropecei!! Fui rolando ladeira abaixo. Sentia meu braço batendo em algum galinho, depois minha perna.  Fui rolando, rolando, rolando.Várias vezes.Sentia o cheiro e até o gosto de terra na boca.Até que cheguei ao chão. Aquele chão sujo do Buracão. Fiquei deitado,com várias dores e escoriações pelo corpo. Não conseguia levantar. Estava com nojo do lugar. Pois estava em um lixão mesmo. Revistas velhas de um lado, garrafas de bebidas alcoólicas de outro, tinha camisas de campanha de político a prefeito da cidade. Um odor horroroso. Minha roupa que era branca ficou toda marrom. Eu nem conseguia levantar. Depois de uns vários minutos é que eu me pus de pé. Mas mancava. Dor em tudo. Fui até onde estava a bola e a peguei", recordou o até então acidentado.

" Estava com raiva do Josefino. Me encheu o saco para descer. Eu até falei que eu comprava outra bola para ele. Mas Josefino não quis. Queria que eu descesse. Naquele momento eu estava cheio de dor e morrendo de raiva do Josefino. Queria matá-lo. Lembro que voltei pelo barranco mesmo. Subi com muita dificuldade. Me segurando nos matinhos e nos galinhos. Quando cheguei no topo, vi o Josefino rindo de mim. Me deu mais raiva ainda. Ele estendeu a mão para eu subir. Ao menos isso", emendou.

Após o incidente, Barnabé foi levado até o apartamento da família de Josefino. Lá tomou banho e pegou uma roupa emprestada do anfitrião.

O problema é que o visitante era gordinho, enquanto o dono da residência era magrinho. Logo, a blusa cinza ficou apertada no ser que a vestiu.

Na sequência, a mãe de Josefino levou Barnabé para a sua casa. Quando chegou, a progenitora do menino acidentado ficou chocada quando viu o estado de seu filho.

"Eu lembro até hoje. A mãe do Josefino tinha um Golf verde. Quando eu cheguei em casa e sai do carro, a minha mãe se assustou quando me viu com a blusinha cinza apertada e os meus machucados pelo corpo. Entrei em casa e ela perguntou o que aconteceu. Ficou preocupada se tinha quebrado alguma parte do corpo, mas felizmente não", relembrou.

"Essa história que já faz 20 anos me marcou muito. Talvez por ser criança, fiquei assustado com o tombo no barranco. Quando criança ficamos impressionados com esses incidentes. Acho que é por isso que está gravado fortemente na minha memória até hoje", finalizou Barnabé.

Obs 1: Procurado pela nossa reportagem, Josefino disse não ter recordações desse episódio. Apenas confirmou que na infância morou em um prédio em frente ao Buracão.

Crédito das fotos: Barnabé Barranquillo


terça-feira, 8 de agosto de 2017

As cláusulas abusivas

Aula de informática no século passado era a preferida dos estudantes. Passavam o tempo no computador e o aprendizado era nulo. Não havia prova e o boletim sempre apresentava nota 10. Era a única nota máxima que ninguém comemorava. Sabiam que o único mérito era a presença na sala de computadores.

O professor apenas passava ensinamentos de alguns programas de PC que ninguém iria usar e provavelmente não usaram até hoje. Internet ainda estava engatinhando e o Google não era popular.Quase não se falava do site de buscas.

Enfim, em uma dessas classes de informáticas espalhadas pelo Brasil daquele período, Claudalberto resolveu fazer uma revolução na avaliação dos alunos. Era um professor querendo sair da zona de conforto na hora de dar nota aos seus pupilos.

A ideia foi dividir a sala em grupos e que cada equipe fizesse um resumo de um texto que fosse passado. O problema é que os textos eram grandes. Quase um livro. Não era apenas resumir no computador e apresentar. Era entender o que estava escrito (em uma linguagem difícil), resumir e explicar para a sala de aula (nada interessada) o conteúdo.

O trio formado por Guido, Guerino e Getúlio ficou com o texto que tinha o assunto mais complexo. Começando pelo título: 'As cláusulas abusivas'.


Já no recreio há a indagação:

-Alguém sabe o que significa esse título?

-Guerino, estou tentando ler até agora e não entendi.

-Nem eu, Getúlio.

Guido nem se manifestou. Era um sinal que também não tinha ideia do que se tratava.

Eram páginas e páginas de algo complexo que eles não entendiam.Linguajar culto e sem nenhuma figura ou ilustração que ajudasse a esclarecer a cabeça dos três adolescentes.   

- Será que o Claudalberto vai ferrar com a gente nesse texto?

-Espero que não, Getúlio. Só o que falta ficarmos de recuperação de informática.

-Vamos nos dividir e cada um faz um resumo em casa. O Guerino faz da página 1 até a 15, o Getúlio da 16 a 30 e eu da 31 até a 50.

-Eu pego o início e explico o título é isso? Já atrofiou meu cérebro ao ler `cláusulas abusivas`,quanto mais entender o conteúdo disso tudo.

-Guerino, não temos outra saída. Nem eu entendo o que está escrito. Mas temos uma semana para resumir, salvar no disquete, imprimir e apresentar.

-Só Jesus na causa.Não é,Guido?

-Eu também acho, Guerino. Mas temos que cumprir a tarefa.

Passou uma semana e os três pobres estudantes esperavam seus pais usarem os computadores (naquela época PC era caro e na média era 1 por família) para depois fazerem o tema. Passavam madrugadas sendo torturados pelas cláusulas abusivas. Os cérebros incharam e quase estouraram de raiva.

Na véspera da apresentação, Guido questiona os seus colegas se estavam em dia as tarefas e eles responderam que sim. Meias-verdades, pois só enrolaram.  Ainda faltava terminar e entender o que escreveram para poder apresentar.

O velho ditado já afirma que em três situações da vida o ser humano não escapa: a morte, os impostos e o dia de entrega/apresentação de trabalho.

Guido, Guerino e Getúlio não foram exceção a regra. O deadline havia chego.

Era bem de manhãzinha. Primeira aula do período matutino. Claudalberto organizou a sala de informática para receber os alunos. Muitos com sono e preocupados com a árdua apresentação.

Claudalberto estava ansioso para ver o resultado dos trabalhos e poder fazer uma avaliação de fato.

Para ser justo com todos, houve um sorteio para decidir qual grupo apresentaria primeiro. Cada equipe elegeu um líder que escreveu o nome em um pedaço de papel e colocou em um saquinho plástico.

Empolgado com o evento, o próprio Claudalberto fez o sorteio e o nome lido foi: Guerino!!

Lá foi o trio apresentar o trabalho. A insegurança pairava no semblante dos três adolescentes.

Getúlio cochicha no ouvido de Guerino.

- Vai, cara! Inicia logo isso.

-Calma que eu já vou. Não é tão simples assim.

Passado alguns instantes de silêncio, o professor pede para que haja início.

Guerino viu apenas aquela turma olhando para ele e esperando para o que viesse em seguida.

Gaguejando e inseguro, Guerino começou lendo (óbvio que não tinha decorado).

-Bem....o texto é sobre as cláusulas abusivas.

-O que?? Como??O que é isso?

A pergunta foi feita por várias pessoas, ao mesmo tempo e várias vezes. Ninguém tinha escutado um título tão indecifrável como esse. Era uma mistura de riso com dúvida.

Guerino lia o resumo. Que não era tão resumido assim. A insegurança no conteúdo não deixava que o pobre menino cortasse pedaços do texto.

Entretanto a leitura era rápida e inaudível. Pouco se entendia. Os alunos e o professor pediam para que o apresentador voltasse e relesse com calma.

O nervosismo tomou conta de Guerino que teve um ataque de riso. Ria feito um louco. Alto e incontrolável. 

Guido e Getúlio não entendiam. Os outros alunos menos ainda. O professor estava incrédulo com aquela sua primeira experiência com avaliação.

Guerino respirou fundo, contou até 5 e reiniciou a leitura. Conseguiu ler com calma o primeiro parágrafo, o segundo, mas no terceiro....a risada voltou. Era incontrolável. Não conseguia disfarçar.   

Getúlio e Guido pediam apenas para seu companheiro se conter. Não podiam substitui-lo na apresentação, porque também não sabiam o conteúdo. 

Claudalberto pediu calma, falou para novamente respirar fundo e recomeçar. No entanto, o professor estava preocupado. Pois o tempo passava e ainda não tinha passado do terceiro parágrafo da primeira apresentação!  

Guerino se recompôs e novamente teve inicio a leitura. Leu o primeiro parágrafo...o segundo....o terceiro foi mais ou menos. No quarto veio o ataque de riso.

- HA HA HA HA HA (muito alto).

A sala toda já ria junto. Foi contagiante. Ninguém sabia o motivo. Mas todos riam. Claudalberto apenas pedia para que todos parassem, pois lembrou novamente que o final da aula estava chegando. 

Após uma diminuição no humor. Getúlio tomou o texto de Guerino e iniciou a leitura.

Novamente foi o primeiro parágrafo. O segundo. O terceiro. De repente, Getúlio começa a rir  sabe-se lá porque. Ele se segura e não deixa que isso contamine a sala. Finalmente vai para o quarto paragrafo.  

No quinto não houve escapatória. Enquanto lia, o riso voltou. Voltou com tudo.

- HA HA HA HA HA HA.

Guerino riu mais alto ainda e em seguida Guido riu também. A sala acompanhou.

Guerino era o mais espalhafatoso. Deitava e rolava de tanto rir.

Claudalberto incrédulo não acreditava no que via. Sabia que o texto não era cômico. Era de difícil interpretação.  

Agora era a vez de Guido apresentar. 

O professor pede para que siga a partir do quinto parágrafo, pois já havia perdido muito tempo.

O aluno obedece. O problema é que o resumo não era tão pequeno assim. Tinha muita lenha para queimar.

Guido inicia a leitura. Quinto parágrafo. Sexto. Lá pelo sétimo se escuta uma risada ao fundo. Era Getúlio se segurando para não extrapolar. O problema é que Guerino escutou e começou a rir. Não se aguentou. Os dois voltaram a rir.

Guido se desconcentrou e caiu na risada. Os outro alunos apenas acompanharam. Todo mundo ria.

Desta vez até Claudalberto estava em um canto rindo. Foi contaminado também. Não aguentava mais.Ele já havia desistido da apresentação.

Mais alguns minutos de histeria e o sinal da escola toca. Acabou a aula. O professor apenas pede que entreguem o trabalho. 

No intervalo, todos seguiram rindo. Perguntaram aos meninos o que houve de engraçado e nem eles sabiam o que aconteceu. Nervosismo? Talvez. 

A única certeza é que todos ficaram aliviados por não precisarem apresentar os trabalhos e agradeceram para sempre o trio que comandou o ataque de risadas.

Por fim, Claudalberto desistiu de sair da zona de conforto e seguiu na mesma rotina. Deu 10 para todo mundo. Desistiu de causar confusão com os alunos. Com todos aprovados, foi mais cedo para as férias. 

Compensou.

Obs 1: Caso não saiba o que significa `clausulas abusivas`procure no Google. A resposta vem fácil.

Obs 2: Texto inspirado em fatos reais.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Uma homenagem à Área

A tragédia já havia sido anunciada. Os três companheiros estavam bebendo em uma mesa de bar e lamentando o ocorrido. Não acreditando na notícia que tinham recebido. O baixo astral era nítido em todos.Um deles até escreveu em suas redes sociais '#luto'. Como se um parte do corpo fosse retirada. Sem consentimento deles.

Edgar havia convocado seus amigos de longa data, Euclides e Epaminondas, para uma reunião de emergência. Mal sabiam os dois do que se tratava.

Os três se conheceram quando cursavam a sétima série. Uma nova escola tinha sido inaugurada na cidade e eles caíram na mesma sala formando uma amizade que perdura até os dias de hoje.

Nas primeiras semanas, os três ficaram durante o intervalo em um pequeno espaço da entrada do colégio. Não era escondido. Estava a vista para todos.Era um assento cinza e do lado de uma sala de aula. Gostaram tanto que se apoderaram do local.

Conforme passou o tempo viram que não tinham concorrência de outras pessoas e disseram que aquela área era deles. Fincando uma bandeira abstrata e proclamando: "A Área é nossa"!

Área! O nome pegou! Estava feito o batizado.

Religiosamente, Edgar, Euclides e Epaminondas estavam lá de segunda à sexta-feira. Durante dois anos. Depois, foram para o outro prédio da escola que abrigava o ensino médio.

A Área formou o caráter dos até então jovens estudantes.

Começaram a assinar seus nomes por alguns cantos dela. Usavam uma chave para furar o assento cinza e fazer desenhos obscenos. Atitude de moleque.

Quando estavam lá, comentavam sobre algum professor que não gostavam, aulas chatas e entediantes, algum coordenador que era muito rígido com os alunos, sobre garotas (bonitas e feias), fatos do cotidiano e por aí vai.

Debochavam de palhaçadas que aconteciam em sala como em um trabalho de história em que houve um ataque de riso em todos. Na ocasião, fizeram o trabalho com um menino aplicado da classe (Eusébio) e este insatisfeito com o desempenho dos três, deu uma bronca histórica. Usou um linguajar de tio dando advertência em sobrinhos. Edgar teve um ataque de riso. Não se conteve na hora de apresentação, o que atrapalhou o andamento da mesma.Todos do grupo riram muito. Foram contaminados pelo excesso de riso. O professor e o restante da classe não entendiam o que havia ali de tão cômico.

Ao final, sem ninguém compreender o conteúdo e o motivo de tanto riso, o professor que era um anjo deu nota 7!!! A real é que mereciam um 0.

"Galera,o que foi aquela apresentação (risos)? Edgar,você não parava de rir. Depois fomos para a Área e ríamos ainda mais da bronca do Eusébio. Minha barriga doía de tanto rir.  Até então acho que nunca tinha rido tanto na minha vida", disse um já embriagado Euclides e se divertindo com a recordação.

Voltando ao período em que eram jovens,era na Área que debatiam sobre futebol, procuravam conhecer novas bandas e falavam de vários filmes. Fora outros entretenimentos.

"Foi lá que conhecemos bandas novas. Sabíamos todas as formações do Iron Maiden. Cada música de cada CD. Ano em que foram lançados.Levávamos discman e ficávamos escutando  álbum por álbum deles. A gente se revezava nos fones. Essa molecada não sabe o que é passar por isso. Baixa um porre de música e está ouvindo tudo nesses programinhas de celular que nem sei o nome. Eles nem sabem o nome da música e nem os álbuns",emendou Epaminondas, mostrando ser da boa e velha escola.

"Foi lá que decoramos todos os campeões ano a ano do Campeonato Brasileiro e da Libertadores. Sabíamos de cor. Não era fácil.Tínhamos que perguntar para parentes e consultar revistas e jornais antigos para ter essas informações. Hoje está tudo na internet", recordou Edgar.

"Levamos um bom tempo nosso na Área para saber os campeões ano a ano e hoje a CBF incluiu os campeões de Taça Brasil e Robertão como campeões brasileiros e hoje não sei mais nada. Bagunçou tudo", emendou Edgar.

O local sagrado servia também para matar algumas aulas. Principalmente aquelas no período vespertino. Sempre mais próximas do final de semana e que não serviam para muita coisa. Ao menos para alguns meninos que estavam em outra 'vibe' da vida.

"Era incrível como as pessoas sabiam que aquele lugar era nosso. Íamos comprar lanches e quando chegávamos na Área, as pessoas que estavam lá (quando tinha) se retiravam. Era um respeito que impomos sem sujar as mãos e nem derrubar sangue. Ninguém nos importunou naqueles dois anos de Área", disse em palavras bonitas um boêmio Epaminondas.

Durante esse período em que se apossaram do território, houve ali mesmo no assento uma pequena colmeia . A criação se iniciou em um período de férias escolar. Ao retornarem para o segundo semestre a primeira novidade que notaram foi o enxame.

Não eram abelhas grandes. Eram pequenas. Quase de estimação. Os rapazes as criavam. Não queriam que fizessem mal a elas

Como terminou a história das abelhas? Como elas sumiram? Nenhum dos três recordava mais. Naquela altura da noite, foi-se apenas um brinde pelas abelhas.

"Quem não lembra da aula de artes em que teríamos que fazer um desenho que posteriormente seria posto na parede da escola para sermos lembrados como os primeiros alunos? De onde surgiu a ideia dos desenhos? Foi na Área! Acabamos desenhando o Eddie, do Iron Maiden, no single `Can I play with madness. Vocês desenharam, né? Eu nunca desenhei porra nenhuma", disse Edgar, já com uma voz embriagada.

Desenho que era para estar na parede de uma escola! Era!

Os outros dois riram. Lembraram que o único grupo que teve dois desenhos reprovados (o outro foi um do `Bob Cuspe fumando) foi o deles. Eram considerados uma afronta a moral e os bons costumes da sociedade. No fim, nem os aprovados e nem os reprovados foram para as paredes.

"Ficamos horas e horas na Área desenhando aquelas merdas. Achamos que ia dar certo. Deu porra nenhuma", relembrou Euclides.

Naquela altura da noite, depois de várias bebedeiras  e lamentações, uma lágrima escorre do olho de Edgar. Isso emociona os outros dois presentes na mesa.Ambos consolam o companheiro.

"Poxa (voz de choro)...saímos da cidade. Fomos morar fora do país. Longe para cacete. A Área ficou abandonada (mais choro). Se soubesse que iam liquidá-la, juro que faria de tudo para impedir. Algum protesto. Um acampamento na Área. Devíamos montar  três barracas para impedir a destruição. Era patrimônio nosso. Devíamos ser consultados", falou lacrimejando um embriagado Edgar.

"Eu viria lá do outro lado do mundo. Lá da puta que pariu para impedir essa demolição. Faria um 'live`pelas redes sociais e mostraria toda a injustiça com a Área.Faria textão na internet.Eu iria ganhar muitos cliques, compartilhadas, curtidas, seguidores e apoiadores da causa", emendou Euclides.

"Queria ver me tirar de lá. Impediria os pedreiros de trabalharem. Atrapalharia mesmo o serviço deles. Não estaria nem ai. Só sairia de lá algemado e olhe lá. Aquele lugar era um pedaço da minha casa. Era meu porto seguro", desabafou Epaminondas.

"No lugar da Área fizeram uns banquinhos mó coloridos. Tem escorregador ali por perto também. Tudo bonitinho, organizadinho.Chamativo! Era legal na nossa época. O bagulho era cinza, sem capricho nenhum.Tudo com desenho obsceno. Abelha em volta. Era 'old school'mesmo. Agora tudo tem que ser moderninho.Demoliram sem dó nem piedade. Na nossa época era muito,mas muito mais legal. Não dá para engolir", disse um traumatizado Edgar ao relembrar quando perambulou pela última vez perto do local em que estudou.

"Não temos nem foto. Nenhuma sequer, "continuou Epaminondas.

"Máquina fotográfica era objeto para adultos e muito caro. Diferente de hoje que qualquer pirralho de 2 anos já sai fazendo a tal selfie. Imagino essa geração na escola fazendo altas selfies com aqueles banquinhos, escorregadores e postando tudo em rede social. Que coisa patética! Fico com vergonha alheia só de imaginar que isso acontece. Essas crianças mal sabem o passado glorioso que está enterrado ali", seguiu um agoniado e dramático Edgar.

Mais um brinde se seguiu pela falecida Área.

"Eu já me conformaria em ter um pedaço da área como recordação. Já que fotos não há. Podiam ter nos ligado e avisado que estavam demolindo. Nem isso fizeram. Acho que nem na hora da reunião alguém lembrou da gente. Eu gostaria de ter um pedacinho de cimento e hoje certamente estaria na sala. Bem no centro. Podia pegar onde estava assinado meu nome", opinou Euclides.

Na sequência chega o garçom e fala que a casa esta encerrando o expediente e questiona-os se poderia trazer a saideira.

Nisso, Edgar chorando começa a contar toda a história ao garçom, que preocupado em fechar o estabelecimento, chegar em casa, fazer afazeres domésticos e cuidar dos filhos, não se comoveu. Apenas pediu calma (de forma protocolar) e trouxe as bebidas.As últimas da noite. Já madrugada para ser mais exato.

Enquanto bebiam mais uma caneca de cerveja (a conta de quantas foram havia sido perdida), o estágio etílico atingia o nível raivoso e pensamentos agressivos foram postos para fora.

"Juro que se eu encontrar o diretor daquela escola  dou um soco na cara dele. Quero ver ele deitado no chão e vou falar umas boas verdades para ele. Alguém sabe onde esse folgado mora?", prometeu um raivoso Euclides.

"Ele deve tá mó velhinho. Deixa quieto. Vai matá-lo só na ameaça do golpe", ponderou um calmo Epaminondas.

"Foda-se. Ele tem que se foder mesmo. Não sabe com quem mexeu", retrucou um esbravejado Euclides.

Enquanto o recinto estava fechando o expediente, o gerente pergunta aos garçons se sabiam o motivo de tanta choradeira e revolta na única mesa que restou no bar.

"Pelo que eu entendi, eles estudaram juntos numa escola e houve reformas no pátio.Algo assim.Eles não gostaram. Disseram que não parece bem com o tempo em que eles estudavam lá. É por aí, chefe", resumiu, muito resumido um dos funcionários.

"Olha eu já vi choradeira por vários motivos aqui. Briga de amigos, por problemas com família, namoradas, dinheiro, trabalho, mas esse motivo é a primeira vez que escuto", disse um surpreendido gerente.

Na sequência, um garçom aborda os três amigos e passa a conta.

"Não queremos a conta. Queremos a Área de volta. Nossa Área. Que saudade!!!", implorou e gritou Edgar.

O garçom apenas sorriu e pediu, por gentileza, que acertassem o que deviam.

Como bons embriagados, se atrapalharam na hora de pegar o dinheiro. Demoraram para somar quanto seria dividido para cada um.

"Demoramos...éeee...demo-ra-mos...mas conseguimos. Estáaa aqui, me-me-meu ca-caro", falou Edgar, em tom gago e mal raciocinando.

Se despediram do bar e cambaleando, um abraçado no outro, saíram do local.

Já perto de seus respectivos automóveis, Euclides chama seus dois amigos e manda um recado:

"Quero que vocês lembrem do seguinte. A Área fisicamente não existe mais. Não.....não tem mais o que fazer. Não tem. Já era. A Área jaz. Descansa....descansa....mas...não esqueçam que ela ainda vive. Sim...vive em nossos corações. No meeeeuu...no seeeu (bate no peito de Epaminondas) e no seeeu (bate no peito de Edgar). Vamos falar sempre dela para tooooodo mundoooo", discursou, já bem atrapalhado na fala.

"É.....é.....foi a nossa despedida da Área. Como ela merecia.....com muiiita....muiiita cerveja", emendou Edgar.

"Vou ver se essa semana passo lá perto...mas acho difícil. Tenho medo de me abalar psicologicamente. Sei que o choque vai ser grande", finalizou Epaminondas.

Antes de partirem, Euclides sugeriu 1 minuto de silêncio para a Área. Foram 60 segundos respeitadíssimos. Sem fala e com lágrimas nos olhos.

Enfim, bem tarde da madrugada os três foram para suas respectivas residências. No dia seguinte, acordaram (com aquela ressaca) e foram trabalhar. Apesar de tudo, a vida segue.

Obs: história inverídica baseada em fatos reais,com altas doses de exagero e drama. 













terça-feira, 4 de julho de 2017

Encontro da galera? Só em velório?

Geraldo aproveitou o horário de almoço do trabalho para resolver assuntos pessoais. Após passar no banco e em algumas lojas, já retornando para o local de seu emprego, encontrou um antigo amigo em uma praça da cidade.

Foi cumprimentá-lo, pois havia algum tempo que não o encontrava. Entretanto, esperou Luiz terminar de falar no celular. Estamos na era em que os telefones móveis são prioridade em nossas vidas.

Passados alguns minutos:

- Geraldo!! Quanto tempo!! Voltou pra cidade? Dá um abraço!

- Luiz, como você está?? Sim...voltei.... estava sem emprego e arrumei um por aqui.

- Você falou emprego? Acabei de arrumar um!! Estava no telefone acertando os detalhes. Já fazia um tempo que estava desempregado.

- Meus parabéns!! Ninguém merece ficar desempregado. Senta aí, vamos conversar. Tem tempo?

- Um pouco. Vamos aí.

Enfim acomodados, colocaram as novidades em dia. Começando pela fisionomia de ambos, que, embora se reconhecessem, já estavam com cabelos grisalhos, barbas mal-feitas, óculos e até uns quilos a mais em relação ao período da adolescência onde formaram uma grande amizade.
Crédito: divulgação 

- Geraldo, esse banco aqui lembra muito aquele perto de casa onde a galera se reunia para trocar ideia, não acha?

- Sim (risos). Dá aquela nostalgia. Todo fim de semana era 'lei'se encontrar naquele banquinho.Você ainda costuma sair à noite?

- Sim. Menos que antes. O círculo de amizades é menor, a galera não tem muito tempo para sair e sem grana fica difícil. E você?

-  Quando dá eu saio sim. O foda hoje são as ressacas. Muito piores que quando éramos adolescentes. Antigamente bebia e no dia seguinte era só uma dorzinha de cabeça que logo passava. Hoje é dor de cabeça, de estômago e vômito. Dura um dia inteiro!!! Tem que escolher quando beber para não se prejudicar no trabalho. Mas o pior é a ressaca financeira. Quando vemos a carteira vazia e temos que conferir o quanto sobrou no banco. Essa ressaca é terrível e demora meses para passar", opinou Geraldo.

- Pode crê (risos).

Durante a prosa relembraram alguns causos de quando eram jovens. Lembraram do período em que suas preocupações eram baladas, conhecer bandas e músicas (algo difícil atualmente pelo pouco tempo que tem. Ouvem mais ou menos os mesmos grupos de 20, 30 anos atrás), viagens (que se tornaram raras em tempos de crise e desemprego) e outras 'futilidades' da adolescência. 

-  Ah, Luiz..faz tempo que você não tem notícias do João, do Joaquim, do Zé, do Lúcio ou qualquer camarada daquela época? Tem encontrado com algum deles?

- Tenho contato deles no Facebook e no Whatsapp, mas nem nos falamos.Sei que teve uns que casaram mais de uma vez, outros moram fora do país, um ou outro ficou rico. Sei que tem gente que vive na rua. Mas não acompanho muito eles nas redes sociais. Nem sei o que postam e pensam.

- Eu também.

-  A última vez que vi todos esses caras, mais uma galera daquele tempo, foi no velório do Abel. Isso há três anos. Foi a última vez em que estava quase todo mundo reunido.

- Pois,é. Isso é um sinal de que estamos velhos. Encontrar toda a galera agora só em velório. Quem diria!? Antes juntar o povo e ir pra balada, bar ou fazer um churrasco na casa de alguém era fácil. E era uma época que não tinha internet. Hoje tem que combinar com antecedência para todos poderem ir. Se forem. Não é simples! Uma pena o velório ser o modo mais fácil de encontro de uma turma.

- Bem, observado Geraldo. Viu, preciso ir agora. Você tem meus contatos, vamos combinar uma hora de sair.

- Valeu, cara. Bom te ver. Preciso voltar ao trabalho. Vamos combinar sim. E que não fique só no papo. Vamos arrumar um tempo. Pra se divertir. Não um velório! Um abraço. 

- Abraço.

Obs: história inspirada em fatos reais




terça-feira, 30 de maio de 2017

Cuidado! A sucata de hoje pode ser o ouro de amanhã!

A decisão mais interessante de acompanhar dos irrelevantes estaduais era entre Novo Hamburgo e Internacional. Era no Rio Grande do Sul que poderia sair a grande sensação de 2017.E não é que foi mesmo!! No sufoco e nos pênaltis o Nóia faturou pela primeira vez em sua história o título de campeão gaúcho.

Como todo amante de futebol vibrei muito com a conquista do Anilado. Afinal, era um pequeno desbancando o favoritismo de um time grande e poderoso. O maior campeão do estado e que havia faturado as últimas seis edições.
Achei!! Créditos: Leonardo Cantarelli
Passado os debates, as parabenizações e as zoeiras nas redes sociais fui dar uma corrida. Enquanto fazia o exercício físico veio na minha mente: 'A camisa do Novo Hamburgo!! Cadê? É hoje que tenho que vesti-lá! '

Enquanto cumpria meu objetivo diário (quase, vai), ficava pensando em que lugar estaria o manto sagrado anilado. Em qual parte da casa estava guardada a camisa da equipe de 106 anos? A atual detentora do principal título do Rio Grande do Sul.

Meu primeiro ato ao retornar à minha residência foi procura-lá. É curioso que quando vamos atrás de um objeto achamos vários outros, mas não o nosso alvo.

Eu vi camisa do Farroupilha de Pelotas/RS, do Independente de Limeira/SP, da Seleção do Japão de 19 e bolinha (uma relíquia)  e nada da peita do Alvianil.

Eu a queria. Queria estar trajado com o uniforme do time do Vale do Sinos. Mesmo no frio, desfilar com a camisa e falar para as pessoas: `Vejam só o meu time foi campeão`. 

Mesmo que ninguém acreditasse, entenderiam a piada. 

Depois me peguei pensando em como certos pertences comuns podem virar o centro das nossas atenções. Nosso ouro do momento.

Fui presenteado com esta camisa pelo meu tio Jorge (casado com a minha tia de sangue, Maritza) em 2007 ou 08. Não recordo a data exata. Ele é oriundo desta cidade fundada por alemães.

Claro que gostei do regalo.Sempre cuidei com carinho. Com o passar do tempo, a usei para ir na academia, correr e para ficar em casa. Não era a melhor roupa que tinha para baladas, por exemplo.Era apenas uma blusa no meu guarda-roupa.

De repente, quase dez anos depois de recebê-la eu a quis de qualquer jeito. Virou ouro. Queria e quero mostrar para todos que tenho  o manto do inédito campeão gaúcho.Ela vale e muito agora! Não é apenas mais uma no meio de tantas roupas.

Entretanto, com quantos pertences nossos não fazemos o mesmo? Quantas coisas guardadas temos que não demos importância e amanhã de repente pode ser a nossa obsessão?O que será que devemos preservar e cuidar com carinho e o que será que podemos descartar?

Aquilo que ganhamos lá atras será útil/agradável uma década depois?

Nessa história de colecionar itens, apegos e desapegos, o que vale ou não a pena guardar?

Após mais de 20 dias, em uma bela manhã, depois de despertar fui ao meu vestuário trocar de roupa e ao abri-lo encontro o meu novo e velho xodó!! Sim de forma inesperada (já a dava como perdida) ela estava lá dentro. Na minha vista!! Apareceu!! Fiquei feliz! Igual uma criança que ganha presente. Ou um adulto que recebe salário!

Onde estava antes? Não sei. Suja e esperando para ser lavada possivelmente! E foi.

Por fim, fica aqui a lição de darmos sempre o melhor valor possível a um objeto! Amanhã pode valer ouro! 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Sacramento/MG! A galinha,o tombo,o bêbado, a idosa, o coco e muito mais!

Acredito que todo mundo goste do período do Carnaval. Não necessariamente das festas, dos desfiles de escolas de samba, mas sim do feriado de quatro dias. Desde descansar em casa, estar com amigos ou fazer uma viagem alternativa (para um local que não tenha a cultura das festas populares de carnaval. Algo mais para descansar do que farrear).


No Brasil usamos esses 4 dias  para extravagância. Seja ficar em casa apenas repousando, ir às festas, beber muito e tudo que vê pela frente. Beijar meio mundo. Transar com qualquer um (a) e com o máximo possível. Gastar todo o dinheiro e por aí vai. É hora de exagerar. Sem moderação (que não tenha consequências negativas, claro).

Eu particularmente já tive várias fases com esta festa realizada em fevereiro. Quando criança gostava das matinês e ir fantasiado. Era tudo mais inocente. Quando adolescente tive aquele momento que era 'cult' dizer que odiava carnaval. Que era tudo ruim. Depois vi que não era assim e fui em algumas festas. Hoje, digo que gosto mais dos feriados e aproveitei alguns para viajar. Não sou fã das músicas que rolam no carnaval e nunca gostei das escolas de samba (isso desde que eu me entendo por gente nunca fui fã). Nunca vi graça nos desfiles e acompanhar pela TV dá muito tédio. Principalmente os juízes que só dão nota 10. Qualquer 9,7 é motivo de choro para as escolas de samba. Fico incrédulo com isso.

Enfim, aproveitando que já chegou a data do evento mais esperado no Brasil, vou relatar fatos (divididos em três postagens) que aconteceram em algumas viagens que fiz. Duas para Minas Gerais (uma para o evento mesmo), uma em Florianópolis/SC e outra no Uruguai (o intuito não era esse, mas estive lá e vi o quão forte é a cultura carnavalesca).

Vamos viajar?


Aqui servirá para falar sobre as cidades, curiosidades, besteiras que rolaram e outros assuntos.

Já adianto que certas situações é interessante contar o milagre, mas nunca o santo, logo os nomes de alguns cidadãos foram alterados com o intuito de não expor o individuo.

Confira:

Parte 1:

Sacramento/MG (2006)
crédito da foto: http://cea-sitiodapedreira.blogspot.com.br/


Minas Gerais, sem dúvida, é um dos estados brasileiros mais ricos em festas, histórias e cultura. É a unidade federativa com mais municípios (853) e a fama carnavalesca é muito grande. Principalmente nas cidades históricas. Entretanto, no sudoeste  há um município chamado Sacramento que tem em torno de 24 mil habitantes. Não me recordo qual dos meus amigos falou que o agito por lá era bom e fomos em 14 verificar. Alugamos uma casa que tinha apenas três cômodos : duas salas e um minúsculo banheiro.

Os 14 machos foram em uma van, de São Carlos/SP, até o seu destino final. Como de praxe, começaram a beber logo de manhãzinha e no início do trajeto. Uma sexta-feira.

Os papos são mais ou menos os mesmos de cada viagem. 'Vou ficar muito bêbado, muito louco', 'vamos pegar muita mulher', 'zoar até não poder mais', 'vão ser os melhores quatro dias da minha vida' e etc. Durante o caminho, pouco antes de atravessar o estado, alguns passageiros tiveram o primeiro sintoma de ingerir muito álcool: vontade de ir ao banheiro. Pediam insistentemente ao motorista que arrumasse um lugar para poder aliviar a tensão, digamos assim. Solicitação aceita. Parada em algum posto qualquer perto de Franca/SP. Tensão aliviada e a viagem seguiu adiante.

Ao chegar ao pequeno município mineiro já se sentia o ar de tranquilidade interiorana. Muitas casas antigas, ruas de paralelepípedos, pouco comércio e uma rotina que anda a '10 km/h'. Eu achando isso ótimo.

Nosso domicílio ficava bem 'no coração' de onde ocorria o carnaval sacramentano.

Todos bem instalados e vamos as epopeias de 11 anos atrás. Para contá-las pedi ajuda a cinco amigos que estiveram nessa epopeia. Já os agradeço pela atenção. Os relatos foram separados em capítulos.

Vamos lá!

A galinha:
Durante o trajeto até Sacramento/MG alguém teve a brilhante ideia de arrumarmos uma mascote. Nem todos concordaram, mas em uma democracia a vontade da maioria prevalece. Mesmo que não seja uma grande ideia.

Já na cidade pedimos informações aos moradores onde poderíamos encontrar algum animal de estimação. Indicaram uma residência e fomos até o destino.

O domicilio era meio sombrio.Não passava uma energia boa. Chamamos pelos moradores e fomos atendidos por uma senhora que se vestia de um modo nebuloso, digamos assim . Era meio seca nas palavras e nos levou até o seu quintal. Um pouco escuro.Lá havia uma variação de aves e escolhemos uma galinha para ser a nossa acompanhante.

Saímos de lá felizes por sobreviver aquele ambiente sinistro.

Na casa em que alugamos havia um pequeno espaço fechado, no fundo, em que a galinha poderia ficar. Era pequeno, mas dava para se mover.

O grande problema é que esquecemos que os animais são seres com algumas necessidades fisiológicas iguais aos humanos. A pobre ave defecava, e claro, nós pensando só em zoar no carnaval, não íamos ficar limpando o recinto. O problema foi o cheiro forte. A casa já não estava muito arrumada e o odor agravava a situação. Beirando o insuportável.

Quem foi oposição ao ter a mascote já se mostrava bastante irritado com a presença daquele ser com penas.

Entre goles de cervejas, zoeiras e risadas, havia pequenas e ríspidas discussões entre situação e oposição para saber se continuaríamos ou não com a galinha. Em geral, as pessoas tinham receio em abandonar o pobre bicho.

O que recordo é no terceiro dia, de tardinha, chegar na casa e encontrar o cafofo vazio! Sim, ela até então havia sumido! Comuniquei os meus companheiros de viagem e iniciamos uma busca pela nossa mascote. Andamos por boa parte de Sacramento. Ninguém havia visto o ser.

Até que de repente se escuta no carro de som do carnaval da cidade algo do tipo: 'Atenção, 15 estudantes da UFSCAR (como?ninguém estudava na tal universidade) estão atrás de uma galinha que sumiu. Sim, gente...uma galinha!!!! O animal foi adquirido como mascote e fugiu. Se alguém souber do paradeiro avise-os'.

De repente, havíamos virado o centro da festa. Por pelos menos alguns minutos.

Perdemos boas horas atrás do nosso xodó de estimação. Em vão, nunca mais a vimos.

Passado alguns dias ou até meses da viagem, um meliante que não simpatizava muito com o pobre animal confessou ter doado ela a uma pessoa da cidade. Coitada da galinha. Deve ter virado canja de alguma família. No mínimo.

Em tempo: Após 11 anos do ocorrido, eu e mais três integrantes da tal viagem nos encontramos em um boteco para relembrar as histórias. Agradeço a ajuda deles, pois sem essa reunião, muitas histórias ficariam pelo caminho. A memória trai.

Um dos presentes no boteco foi quem havia dado sumiço na galinha. De forma exclusiva a este blog, ele nos contou detalhes do que houve com a ave.

" Eu simplesmente não aguentava mais aquela galinha Entrei um dia na casa e só estava o Januário dentro.Falei que ia dar fim na galinha.Januário não se opôs. Abri a portinha de onde ela estava,fui tentar pegá-la e ela escapava da minha mão. Eu já tinha bebido umas. Imagina um bêbado tentando pegar uma galinha?! Sofri, mas consegui agarrá-la. Sai da casa, vi que não tinha nenhum dos hóspedes por perto e comecei a oferecer para as pessoas. Uma senhora aceitou e me agradeceu ainda", recordou e revelou o meliante.

Foi brigar e caiu do telhado
Como dito no texto acima, a galinha gerou problemas na casa. Entretanto, não foi só na nossa. Os vizinhos pareciam incomodados com o cheiro de excremento da pobre ave. Havia uma pequena edícula e víamos constantemente dois caras, provavelmente de um segundo andar, reclamando e nos xingando. 

Inicialmente não dávamos importância.

Os dias passaram e a situação foi ficando mais séria. Os dois indivíduos começaram a tacar água e posteriormente algumas garrafas no nosso recinto. Nos intimidavam. Mostravam dedo do meio e queriam briga.

Com o problema se agravando, Patrício Matta foi tirar satisfação e subiu no telhado. Porém, Patrício já havia bebido muito!! Como o próprio recordou, deu dois passos e a telha foi pro chão, caindo na laje.

"Quebrei a telha e cai na laje. Meu braço ficou todo cortado. O clima entre a nossa galera e aqueles dois caras estava muito pesado. Eu subi, pois acho que queria ir até a edícula deles e tirar satisfação. Eu bêbado, lembro que subi muito rápido, dei dois passos,quebrei e cai na laje. Pisei  na telha como se tivesse pisado no chão e cai.O curioso, é que eu estava muito bêbado, e quando passou o efeito eu vi meu braço  todo cortado e não lembrava o que tinha acontecido. Não vinha na minha mente os fatos. Um bom tempo depois do carnaval é que os fatos foram clareando na minha cabeça", recordou Patrício em entrevista exclusiva a este blog.

Não houve briga e após o sumiço da galinha, os dois seres não nos incomodaram mais.


O bêbado em todos os seus estágios:
Já dizia o provérbio: "bêbado é uma desgraça". Frase curta, porém real.

Toda viagem, principalmente carnaval, tem aquela pessoa que passa dos limites. Em uma caravana com 14 a chance dessa situação acontecer era grande. Não houve escapatória.

A mais cômica aconteceu creio que no segundo dia.


Era por volta das 16h, 17h,e estava um sol de rachar.Calor. Nada como aproveitar a tarde, iniciar a bebedeira e as festas. Como mencionei acima nossa casa ficava na rua onde aconteciam os eventos. Era só abrir a porta e já dávamos de cara com o fervo.

Alguns são-carlenses  avistaram algumas adolescentes e as abordaram. Os paulistas tinham em torno de 18 e 20 anos. As mineiras creio que entre 15, 16, no máximo 18. Os que não foram conhecê-las tiraram um pouco de sarro dos que foram os chamando de pedófilos. A palavra é feia, mas era uma brincadeira entre amigos. As meninas não eram crianças e sim adolescentes. Nada para estressar.

Eu estava sentado na calçada, olhando para o nada e bebendo cerveja. Tanto do meu lado direito como do esquerdo estavam outros amigos meus na mesma situação. Curtindo o agradável dia e degustando uma 'breja'.

Estava tudo calmo, silencioso. Após algumas horas sinto alguém cutucar, de forma ríspida, meu ombro esquerdo. Era Bartolomeu e começou a falar em tom desesperado:

"Não, mano. Os caras ali começaram a me chamar de pedófilo, porque eu estava de papo com as meninas. Eu não sou pedófilo! Eu estava apenas conversando! Juro!"

Eu achei aquilo estranho. Parecia início de uma piada. Uma brincadeira.Olhava com ar de dúvida para entender qual era a mensagem de Bartolomeu.

Ele apenas repetia: " Mano, é sério, eu estava só conversando. Não era nada demais. Não sou pedófilo. O pessoal leva tudo na maldade."

Quando vi os olhos de Bartolomeu lacrimejando eu entendi que era um surto. Uma preocupação com sua reputação em que as horas que ingeriu álcool  transformasse uma bobagem em drama pessoal. Para ficar a noite toda se defendendo e claro, depois até mudando de assunto e falando o que não devia.

Durante seu desabafo todos na casa já perceberam a situação de Bartolomeu. Parecia que quanto mais queriam acalmá-lo, mais irritado ele ficava.

Bartolomeu seguia seu showzinho. Tentando se explicar. Se desculpar. Começava a falar de outro assunto. Misturava um com outro.

Passado bom período, Bartolomeu começou a falar de um grande amor do passado. Repetia com exaustão a frase: 'Eu não transava com ela. Era amor! Nós fazíamos amor!'.

Já extremamente alterado imitava as posições sexuais que praticava com sua ex-parceira. Todos riam do estado que o pobre embriagado se encontrava. O famoso tragicômico.

No final da madrugada o show não tinha acabado.Brincadeirinhas e provocações eram feitas ao alcoolizado.

Até que Homero fez uma provocação falando da tal amada e Bartolomeu quis partir para a pancadaria. A coisa tinha ficado séria!

Homero tentava acalmar e Bartolomeu queria violência. Tivemos que acalmar o maior bêbado da galera até então. Até ele deitar e pegar no sono. Não foi fácil, mas conseguimos.

No dia seguinte, o pobre ser disse ter consciência do show que deu, mas pensava não se lembrar de tudo.

Enfim, Bartolomeu passou por todos os estágios do álcool. A empolgação, a tristeza, a raiva, o sono e a amnésia. Além, claro, de falar o que não devia.

O banheiro
Era um cubículo. Minúsculo. Havia apenas pia, privada e chuveiro.Para 14 homens.Imagina 14 homens precisando escovar os dentes, lavar o rosto, fazer necessidades básicas e tomar banho neste pequeno espaço? No primeiro dia até que aguentou. No segundo ficou mais ou menos. No terceiro, alguns começaram a usar os toaletes de hotéis e restaurantes  que haviam por perto.No quarto dia, pela manhã, era unanimidade que não dava mais para usar o banheiro da casa. Fedia e o chão estava alagado. Estado de calamidade!

O debate entre todos os presentes era: 'o que fazer com o específico recinto`?

Sim, óbvio que precisava de uma limpeza. Mas quem ia fazer este serviço? Afinal, nenhum dos envolvidos foi a Sacramento para limpar banheiro.

Outra solução seria procurar uma faxineira na cidade. Inicialmente, alguns não quiseram, pois queriam economizar dinheiro. O álcool sempre é a prioridade.Também argumentavam que iríamos ficar só mais um dia e meio e dava para aguentar o recinto sujo.Felizmente era uma minoria que pensava assim.

Novamente em uma democracia a maioria vence. A maioria queria chamar uma faxineira. Um dos que votou a favor prometeu que conseguiria achar uma e com um preço bem baratinho.

Iniciou-se uma caça à salvadora da pátria dos são-carlenses. Abordávamos pessoas nas ruas questionando se tinham contato de alguém que poderia fazer esse serviço em pleno carnaval.Até que em um boteco um senhor disse que sua irmã poderia cumprir a missão.

Ficamos esperando umas duas horas e a senhora apareceu e concordou em limpar a casa. Já que ia limpar o banheiro, dava um jeito em tudo, pois o restante do local não estava nada higiênico.

Fiquei com receio de mostrar a casa.Não queria ver a reação dela ao deparar-se com o estado deplorável do banheiro. Imagina aguentar aquele fedor todo?

Enfim, trabalhos iniciados e os moradores esperaram na rua, já curtindo mais um dia de carnaval.

Após um período foi nos dada autorização para retornar ao recinto. Estava extremamente limpo.Brilhante! Lustroso! O banheiro então...pronto para outra.

E sim, o cidadão que disse que conseguiria um bom serviço por um preço bem barato o fez. Mais barato do que nós queríamos pagar e o que seria justo. Enfim...esse teve lábia!

Por fim, foi muito agradável ficar um dia e meio em um recinto limpo. Não precisando usar banheiros de hotéis e restaurantes. Compensou.


Desculpa não limpa chão
Benigno era um ser pacato e com pouco diálogo. Na viagem a Sacramento/MG, Benigno ficava mais na casa alugada do que na rua. As poucas vezes que o via estava na porta e fumando um cigarro.

Entretanto, em um dos dias de carnaval houve uma chuva forte. Duas mulheres, uma delas com um filho de colo, pediram para ficar um tempo hospedadas na nossa residência. Foram aceitas. Mas Benigno, pelo seu jeito anti-social não gostou da presença das duas.

No meio daquela noite uma das mulheres começou a passar mal e vomitou no chão da casa. Não é recordado o motivo que ela passou mal. Mas vomitou.

Benigno, descontente já com a presença das duas, começou a limpar o chão. Pegou um balde, encheu de água e tacou no chão.Várias vezes. Era nítido a sua irritação.

Em um dado momento, a dama que fez a tal tragédia falou: 'Moço, me desculpe.Por favor.'

Benigno, com sua sinceridade de sempre, de forma seca retruca: ' Desculpa não limpa chão!'

A tal senhora ficou sem graça e Benigno, frio como era de praxe, estava apenas interessado em deixar o chão limpo.

Após algumas horas, São Pedro fechou a torneira do céu e as duas seguiram seu rumo.

O gordinho sexy sensualizando com cerveja
Toda viagem que se faz em galera sempre há um gordo/gordinho fanfarrão. Aquele que gosta de aparecer. É engraçado. Amigo de todos. Só pensa em ficar bêbado e zoar. Esta sempre de bom humor e procura, através de piadas levantar o astral de todos.

Nessa ida a Sacramento/MG não foi diferente. Havia um ser que aprontou as suas.

Em uma das tardes, alguns são-carlenses xavecavam algumas mineiras.A conversa fluía, falando sobre a vida, São Carlos, Minas Gerais, carnaval, estudos e por aí vai. Situações normais.

Eis que o tal ser aparece, sem camisa, no meio da conversa e com uma lata de cerveja na mão. O fanfarrão da turma abre-a e começa a tacar pelo corpo fingindo uma sensualização. Igual aquelas propagandas de cerveja em que as mulheres se deliciam com o produto etílico. Um deboche que custou a presença das meninas no local.Incomodadas com o bêbado tacando cerveja em si mesmo, estas se foram. Deixando alguns marmanjos bravos com o fanfarrão do rolê.


Pegadinha! O gordo no freezer

Como em toda viagem o álcool não pode fazer falta. Os garotos de São Carlos compraram 60 fardos de uma marca de cerveja que leva o nome de um país europeu cuja capital é Valeta. A lata à época custava R$0,64. Enfim...

As tais 'cevas' ficavam em um frigobar na casa alugada. Alguém, sabe-se lá quem, teve a ideia de tirar elas de lá e colocar o gordinho fanfarrão dentro do freezer. Óbvio que a ideia foi aceita.

Alguns são-carlenses puxavam assuntos com cidadãos sacramentinos ou mesmo os que estavam de passagem e os convidavam a entrar e tomar uma cerveja. Ao chegar próximo ao freezer, o tal convidado abria o recipiente e o fanfarrão saía e dava um susto! Igual aquelas pegadinhas que passavam no Faustão e no Sílvio Santos!

Algumas pessoas riam do ocorrido, outras saiam correndo. Outras ficavam nervosa. Enfim, era do jogo.

Mas em um dado momento, um dos nossos amigos chamou duas amigas para entrar na casa e pegar cervejas. Sabe-se lá como foi a abordagem.


As duas aceitaram o convite e na hora do vamos ver saiu o gordinho do freezer. Passado o susto inicial, uma delas acabou beijando o fanfarrão!!


O gordinho seguiu a noite com a tal donzela.Ela residia em Sacramento/MG.Segundo o próprio, a menina pediu que ele o acompanhasse até a sua casa. O fanfarrão a levou e nos contou que no meio do caminho a libido de ambos estava muito alta e acabaram dando aquela trepadinha.Em um lugar discreto da cidade.


Moral da história, uma pegadinha pode irritar 1000 pessoas, mas com certeza uma vai gostar e vai te fazer muito feliz (mais até do que isso)!!!

Juvenal tenta trocar gato por lebre
Como já mencionado, os garotos de São Carlos levaram para Minas Gerais uma cerveja não muito famosa. Foi pelo baixíssimo preço (R$ 0,64). 60 fardos.

O grande problema desse produto etílico é que o gosto maltratava o paladar dos clientes. No primeiro dia tomaram normalmente.

No segundo, já foi um sacrifício. Torturante. Sentiam falta de uma bebida com mais qualidade.

Com o intuito de conseguir uma 'gelada' mais saborosa, Juvenal teve a ideia de ir aos bares, dizer que era uma cerveja importada e de difícil aquisição no Brasil. O objetivo era conseguir um produto melhor ou até fazer uma revenda e faturar um dinheiro.

Mas o plano, do Juvena (apelido), foi em vão. Todos na cidade afirmavam conhecer a cerveja e não caíram nessa história.

Entretanto, houve um acordo em um bar. Que fosse cedida 2 unidades da cerveja que leva o nome de um país europeu por 1 de uma marca nacional. Os são-carlenses adoraram e passaram a fazer o troca-troca.E foram muitas.

Mas os dias se passaram e o dono do local inflacionou o negocio. Pediu  3 cervejas por 1. O trato teve que ser feito, mas as trocas foram diminuídas.

Até os últimos minutos dessa viagem, tiveram que tomar a tal cerveja. Nunca mais compraram.

O tornozelo com ligamento rompido e o cu na mão
Uma semana antes de viajar a Sacramento, Reginaldo rompeu os ligamentos do tornozelo.Engessou o pé. Para não ir com o gesso, o arrebentou e foi sem. O que posteriormente custou uma bronca do médico.

Reginaldo era muito ativo. Não ficava um minuto parado. Quando bebia então, ficava mais endiabrado. Sem noção.

Em certa noite, ele e mais alguns carlopolitanos começaram a jogar futebol. Mas com um coco e não com uma bola. Até que deram um balãozinho com o coco e Reginaldo, que tinha o tornozelo comprometido, resolveu chutar com força e para cima a fruta e fodeu ainda mais o local machucado.

Já estavam quase todos dormindo na casa (suponho que já era quase 5h da manhã) quando o lesionado, que não aguentava mais de dor, pediu ajuda para levar a um hospital próximo. Seis pessoas fizeram o favor. Eu era um deles.

Chegamos em um pronto-socorro próximo e este foi encaminhado para fazer um raio-x.

Eu fiquei na sala de espera. Ao meu lado estava uma garota. Branquinha e de cabelo preto.Era nítido que estava drogada. Começou a puxar assunto falando sobre a noite e o motivo que estava no hospital.Uma amiga dela havia passado mal.

Depois desabafou sobre a sua vida. Falou que viveu um período em São Paulo/SP, trabalhou na noite (dando a entender que era prostituta) ,mas que agora tinha saído dessa vida e que morava em Uberlândia/MG com o filho. O marido estava preso por tráfico de drogas.

Outra preocupação dela era que tinha ido com o seu irmão a Sacramento/MG,mas não o avisou que foi ao hospital . Que ele devia estar procurando ela pela cidade.

Conversa vai, conversa vem e nada do meu amigo sair do atendimento.

Passando algum bom tempo, o irmão da tal mulher aparece. Tinha um jeito de ser mal-encarado. Com várias correntes pelo corpo.

Ele perguntou, bem irritado, o que ela estava fazendo no hospital.

A resposta foi: ' Vim aqui com a fulana que passou mal. Estou esperando ela sair.'

A réplica foi: ' Por que não me avisou? Estive te procurando por toda parte!!!!'


Seguiu a tréplica: ' Foi tudo rápido. Não estou sozinha, estou com ele (apontado para mim, que estava quieto).

O cara virou e apontou o dedo e me disse: 'Você está com ela então'?

Eu, com receio dele, não sabia o que falar, até que ele mesmo respondeu:

'Se está com ela, pode levá-la para casa'.

E foi embora! Rindo e bem humorado. Bem diferente de como entrou.

Eu apenas senti um alívio na alma.

Passado alguns minutos, Reginaldo saiu com o pé engessado, retornamos ao nosso aconchego e dormimos. Mesmo imobilizado, Reginaldo seguiu curtindo o carnaval e não cumpriu a ordem médica que era de repouso.


A idosa de olho no novinho

Já era terça-feira. Última noite de folia. Aproveitar o máximo. Os jovens são-carlenses estavam na rua. Formavam uma roda. Bebiam e conversavam. Próximo estava um grupo de pessoas idosas. Creio que mais de 60 anos.

Dentre eles, havia uma senhora que começou a olhar para um dos rapazes de São Carlos. Não desgrudava os olhos. Amadeu percebeu que era o alvo da senhora. Mas deixou quieto. Januário percebeu a situação e comentou com Amadeu.Outras pessoas em volta também perceberam.

Maldoso, Januário chamou a senhora para conversar com Amadeu. Ela deu oi e Amadeu respondeu. Percebeu também que foi isolado. Ficando ele e ela.

A mulher, toda empolgada, perguntou o nome do menino  e de onde era.

`Sou Amadeu  e moro em São Carlos.E você?`

`Eu sou Ana (nome fictício) e sou de uma cidadezinha aqui perto'.

Ela tenta pegar na mão do jovem, que apenas se afasta. Em seguida, o menino pergunta a idade dela.

Surpreendentemente, Ana afirma: `Tenho 35 anos.`

Óbvio que Amadeu não acreditou, pois sua fisionomia apontava que era no mínimo 65. Em seguida,o garoto pediu que ela mostrasse o RG.

Ela afirmou que não estava com nenhum documento.

Amadeu perguntou se ela tinha filhos e netos.

Ana voltou a falar que era jovem, que nunca casou e nem tem filhos, muito menos netos. Em seguida, Ana pediu o telefone e o endereço de Amadeu. Este a questionou o motivo e a resposta foi: `Para nos comunicarmos. Quando tiver um baile na minha cidade eu vou te chamar.`

Amadeu apenas desconversou e falou que voltaria para  a roda de seus amigos. Ana disse que tudo bem e ainda passou a mão na barriga do pobre menino. Ela riu e ainda mandou beijo.


Passado algumas horas, Januário cutuca Amadeu e pede para olhar para o lado. Era Ana mandando beijos e dizendo tchau.

Risos de alguns dos presentes com a situação.

Considerações finais:
1) Era um tempo em que os celulares não eram modernos como agora. Logo não era qualquer um que tinha máquina fotográfica. Nenhum dos envolvidos que conversei recentemente afirmou ter tirado fotos.

2) Houve um integrante que conheceu uma menina no segundo dia e ficou de namorico com ela até a última noite. Estavam sempre juntos.

3) Reza a lenda que essa menina tinha máquina fotográfica, registrou alguns momentos nossos e em seguida mandou por e-mail ao seu ficante. Entretanto, esse foi aqueles amores de carnaval e os dois nunca mais se viram. Segundo o próprio, ela enviou as fotos, mas em um e-mail que ele não acessa mais, não tem como procurar a correspondência eletrônica e encontrar as fotos. Paciência.

4) Como mencionado fomos em 14 garotos. No entanto, voltamos em 12. Dois, no meio da viagem, voltaram a São Carlos. Um por conta de sua namorada e o outro, porque acho que se encheu de Sacramento/MG.

5) Patrício não contente em cair do telhado e cortar o braço ainda aprontou outra. Em um bar próximo havia dois policiais fazendo um lanche. Patrício viu o carro dos policiais e começou a mexer na sirene. Os amigos ficaram preocupados que ele estivesse tirando a sirene do carro. Felizmente era só uma brincadeira. Não teve maiores consequências.

6) Houve um coleguinha que levou menos dinheiro do que devia e no último dia ficou sem um tostão. Foi atrás de banco e caixa 24 horas na cidade e em vão. Deu sorte que um de seus amigos emprestou dinheiro para jantar. Bebida ainda tinha de sobra.

7) Houve carlopolitano, que a fim de subir no trio elétrico, onde estavam autoridades da cidade,afirmou  que era filho do secretário de saúde de Sacramento/MG. Em vão....


8) Se alguém lembrar de alguma história ou tiver fotos me avisem!!!

9)Ah, chega, né?

......Fim