sábado, 9 de setembro de 2017

Traumas e sequelas do Buracão

Era uma praça suja,feia e abandonada.Seu formato lembrava o de um buraco. Por isso o apelido Buracão.

No local havia muito lixo e aliado ao cheiro ruim fazia parecer um esgoto a céu-aberto.

Entretanto, o Buracão era um lugar no mínimo curioso para algumas crianças que moravam ali perto. Uma rua pacata e pouco conhecida na cidade. Isso há 20 anos. Naquele período em uma dessas andanças pelo lugar um menino, por uma pequena teimosia do próprio (ele nega), acabou levando um tombo feio. Machucou-se. Não só fisicamente, como psicologicamente.
Buracão atualmente!

Até hoje, já adulto e casado, ele se recorda desse dia. Quando está bêbado gosta de lembrar do episódio. O quanto gostaria de ser ajudado pelos seus amigos, mesmo eles não tendo culpa de nada. Inclusive o pai dele já avisou que o próprio acidentado foi o responsável pelo ocorrido.

Após alguns goles de cerveja e wisky, Barnabé, resolveu contar detalhes daquele fatídico dia e que virou história para este blog!!

Confira:  
Parecia ser um final de semana rotineiro em que meninos de 11 anos se encontram, no período da tarde, para brincar.

Josefino, que morava em um prédio em frente ao Buracão, era o anfitrião da reunião que contava com mais 3 integrantes. Um deles era Barnabé.

Em um dado momento, um dos rapazes teve a ideia de jogar bola na rua. Todos concordaram.

Inicialmente a brincadeira era apenas toque de bola. Após alguns minutos, Barnabé, quis fazer uma graça, chutou a pelota com força e o destino foi o Buracão.

Havia duas opções para buscar o objeto redondo: dar a volta na pracinha e descer pela entrada principal, o que seria mais demorado, mas mais seguro. A outra seria descer pelo barranco que era mais próximo de onde estavam os garotos, mas mais arriscado e perigoso.

Lugar onde havia o tal barranco e que traumatizou uma criança 


Outra dúvida que pairou era saber quem iria cumprir a tal missão. De acordo com Barnabé, Josefino afirmou que quem havia chutado a bola no local deveria resgatá-la.

"O Josefino havia falado que eu deveria ir. Então eu fui. Acho que escolhi ir pelo barranco porque era mais próximo de onde estávamos e também tinha aquela coisa de ser uma aventura. O barranco era bem alto e mal tinha onde se apoiar", relembrou Barnabé em entrevista exclusiva a este blog.

Mal sabia o pobre menino que aquela opção seria um erro e ficaria marcada para sempre em sua vida. O coitado levou um tombo histórico.

"Eu comecei a descer. Lembro que era só barranco e quase não tinha onde apoiar. Poucos galhos. Fui descendo devagar. Bem devagar. Mas foi inevitável.Uma hora tropecei!! Fui rolando ladeira abaixo. Sentia meu braço batendo em algum galinho, depois minha perna.  Fui rolando, rolando, rolando.Várias vezes.Sentia o cheiro e até o gosto de terra na boca.Até que cheguei ao chão. Aquele chão sujo do Buracão. Fiquei deitado,com várias dores e escoriações pelo corpo. Não conseguia levantar. Estava com nojo do lugar. Pois estava em um lixão mesmo. Revistas velhas de um lado, garrafas de bebidas alcoólicas de outro, tinha camisas de campanha de político a prefeito da cidade. Um odor horroroso. Minha roupa que era branca ficou toda marrom. Eu nem conseguia levantar. Depois de uns vários minutos é que eu me pus de pé. Mas mancava. Dor em tudo. Fui até onde estava a bola e a peguei", recordou o até então acidentado.

" Estava com raiva do Josefino. Me encheu o saco para descer. Eu até falei que eu comprava outra bola para ele. Mas Josefino não quis. Queria que eu descesse. Naquele momento eu estava cheio de dor e morrendo de raiva do Josefino. Queria matá-lo. Lembro que voltei pelo barranco mesmo. Subi com muita dificuldade. Me segurando nos matinhos e nos galinhos. Quando cheguei no topo, vi o Josefino rindo de mim. Me deu mais raiva ainda. Ele estendeu a mão para eu subir. Ao menos isso", emendou.

Após o incidente, Barnabé foi levado até o apartamento da família de Josefino. Lá tomou banho e pegou uma roupa emprestada do anfitrião.

O problema é que o visitante era gordinho, enquanto o dono da residência era magrinho. Logo, a blusa cinza ficou apertada no ser que a vestiu.

Na sequência, a mãe de Josefino levou Barnabé para a sua casa. Quando chegou, a progenitora do menino acidentado ficou chocada quando viu o estado de seu filho.

"Eu lembro até hoje. A mãe do Josefino tinha um Golf verde. Quando eu cheguei em casa e sai do carro, a minha mãe se assustou quando me viu com a blusinha cinza apertada e os meus machucados pelo corpo. Entrei em casa e ela perguntou o que aconteceu. Ficou preocupada se tinha quebrado alguma parte do corpo, mas felizmente não", relembrou.

"Essa história que já faz 20 anos me marcou muito. Talvez por ser criança, fiquei assustado com o tombo no barranco. Quando criança ficamos impressionados com esses incidentes. Acho que é por isso que está gravado fortemente na minha memória até hoje", finalizou Barnabé.

Obs 1: Procurado pela nossa reportagem, Josefino disse não ter recordações desse episódio. Apenas confirmou que na infância morou em um prédio em frente ao Buracão.

Crédito das fotos: Barnabé Barranquillo