Vamos lá:
Todo final de ano era praxe na minha família: réveillon em Capão da Canoa/RS. Tínhamos uma casa na Avenida Paraguaçu, quase no fim da cidade e em direção a Capão Novo/RS.
O nosso reduto no litoral norte gaúcho foi adquirido em meados dos anos 80. Desde pequeno tinha esse espaço como um aconchego para passar o final de ano. Sair da rotina, conhecer gente nova e pegar praia, claro.
A Paraguaçu guardada as devidas proporções é igual a Avenida Ipiranga em Porto Alegre, a Paulista em São Paulo e a Brasil no Rio de Janeiro. Mais ou menos isso.
A diferença é que nos anos 90 era praticamente mato. Era a casa da minha família, em frente a eterna Eletrônica Silva (que deve ser mais velha que Capão, hehhe), um ou outro domicilio e só.
Ao longo dos anos foi nítido o crescimento urbano. Vieram prédios, comércios, pizzarias e do lado da minha casa construíram um supermercado. Este que todo ano mudava de nome e de dono. Era incrível.
Final de 2007 iria ter uma festa de fim de ano em uma balada famosa. Eu, meu irmão e um amigo nosso compramos convites.
No início da noite passamos as comemorações da virada com a família e o nosso amigo, conhecido como Sanduba, ficou de passar em nosso domicílio à 1h. Apareceu perto do horário combinado.
Fomos no carro do meu avô e na saída pedi para o meu pai deixar o cadeado para fora do portão, pois voltaríamos a hora que eles estivessem dormindo e com a chave em mãos não precisaríamos acordá-los.
Enfim, pé no acelerador e tomar cuidado com as tragédias do caminho. A primeira estava no próprio trajeto até o local do evento. A impressão que deu é que o Rio Grande do Sul estava todo lá na Paraguaçu! Parecia hora do rush das cidades grandes.Aquele engarrafamento que não se mexia, buzinas, gritos e lembro até de ter visto batida.
O ritmo era lento. Andava alguns centímetros..,,parava horas. Assim foi.
Já sentia a irritação dentro de mim. Passando os primeiros momentos de 2008 dentro de um carro, preso em um trânsito. Pior: sem expectativa de se livrar do problema.
Meu irmão estava no volante e visivelmente cansado daquela loucura encontrou um estacionamento, mais ou menos próximo à balada. Foi difícil se desvincilhar de alguns carros, mas Fred conseguiu chegar no estacionamento privado. Olhei no relógio e já eram 3h30! Sim, ficamos por volta de 2h30 no engarrafamento.
Caminhamos um bocado até a entrada do destino final e vimos a consequência de um trânsito louco: uma fila imensa para entrar!!
Já que estávamos no inferno, fomos encarar o diabo.
A fila até que andava, mas desordenada. O famoso empurra-empurra. Tentava caminhar e ia para um lado e para o outro, sentia a mão de um qualquer em mim, outro que se desequilibrava e caia em cima de mim. Um verdadeiro manicômio.
Após essas trapalhadas, consegui entrar no local. Entupido de gente!!Mal conseguia caminhar.
A festa era open bar. Fui até o bar pegar uma cerveja para relaxar e tentar curtir a noite. Claro, uma fila imensa para pegar bebida. Tinha que ir se enfiando até próximo de um barman e este olhar para ti e questionar seu pedido. Após várias tentativas, fui atendido. Ouço que a breja já havia acabado. Então, pedi um refrigerante. Não tinha também. Só havia champanhe. Não sou fã dessa bebida, mas já que só `tem tu vai tu mesmo'.
Peguei a minha taça de champanhe e antes de começar a beber, uma menina estava vindo na minha direção, tropeçou em alguma coisa, bateu em meu copo e derrubou o líquido na minha roupa inteira!!
Ela me pediu desculpas pelo incidente. Eu nervoso com tudo, apenas pedi educadamente, que seguisse seu rumo (mas no fundo já pensava: que mais falta acontecer hoje?). Que situação!
O próximo passo era encontrar um lugar para ficar. A balada tinha vários ambientes. Cada um tocava um tipo de música. Todos estavam lotados! Alguns não davam nem para entrar. Senão me engano, o de pagode era o menos entupido (não confundir com vazio). Era o único que dava para dar um passo sem esbarrar em alguém. Não sou fã do estilo, então não fiquei satisfeito em estar ali.
Após alguns minutos, já vi que eram por volta das 5h da manhã e olhei para o meu irmão e o meu amigo e decidimos que era hora de partir. Tive a sensação que não se aproveitou nada da noite.
Ainda pararam para comer um lanche. Eu sem fome, não me alimentei.
Em seguida deixamos o Sanduba em sua hospedagem e depois fomos para o nosso aconchego.
Chegando na garagem fui procurar o cadeado para abrir o portão e estava do lado de dentro!!! Já me subiu um sangue. Tava com sono,irritado e deixaram o cadeado do lado de dentro! A sorte era que o portão era de madeira em volta (sustentado por rodinhas) e no meio era composto por vários arames. Fui arrebentando alguns até que minha mão chegou confortavelmente ao cadeado e abri.
Ao descer do veículo meu pai apareceu e eu fui indagá-lo por qual motivo não cumpriu o nosso combinado. Ele apenas pedia silêncio, pois os meus avôs estavam dormindo. Se tem uma situação que irrita é quando você quer falar, gritar e a outra pessoa só pede que você permaneça quieto.
Após tentar três vezes falar com o meu pai e ele negar, peguei um molho de chave que estava na minha mão e atirei-o na mesa que ficava na sala. Fez um estouro!! Um barulho que deve ter acordado Capão da Canoa inteira! Meu pai e meu irmão apenas olhavam assustados com o fato.
Meu irmão perguntava se eu tinha bosta na cabeça. Repetiu isso umas três ou quatro vezes. Agora era eu que não queria conversa.
Nesse momento eu já estava no meu quarto e pronto para dormir. Abri o guarda-roupa para procurar os meus pijamas e nada. Procurei em outros cômodos da casa e nada. Quando fui até a lavanderia vi que tudo estava lavando!!
Depois disso, desisti e apenas me deitei. Lembro de ter que esperar mais de uma hora até a raiva passar, pegar no sono e esquecer essa noite trágica.
Observações:
1) Possivelmente foi a penúltima vez que passei o ano-novo nessa casa. Meu avô, que quem cuidada de fato do recinto, faleceu em 2009 e meses depois a casa foi vendida. Revi-la pela última vez em 2014. Abandonada. Hoje não sei como está. Se alguém alugou, se virou comércio (a tendência daquela região). Se alguém souber me avise.
2)No dia seguinte ao relatado acima, conversei com o meu pai e o perguntei sobre o cadeado. Ele disse que não havíamos combinado nada. Mas retruquei dizendo que lembrava de ter feito o pedido e ele concordado. Vai saber...
3)Um ano depois dessa noite, me recordo de ter encontrado Sanduba em um bar. Lembramos do episódio. Mas a impressão que ele passou é que apesar de alguns incômodos, aquele réveillon não foi tão ruim para ele como para mim.
4) Não sei se esse foi o pior réveillon da minha vida. Teve um que foi trágico também (2009 para 2010) e quem sabe um dia eu conte.
Vida que segue e feliz 2017.
O nosso reduto no litoral norte gaúcho foi adquirido em meados dos anos 80. Desde pequeno tinha esse espaço como um aconchego para passar o final de ano. Sair da rotina, conhecer gente nova e pegar praia, claro.
A Paraguaçu guardada as devidas proporções é igual a Avenida Ipiranga em Porto Alegre, a Paulista em São Paulo e a Brasil no Rio de Janeiro. Mais ou menos isso.
A diferença é que nos anos 90 era praticamente mato. Era a casa da minha família, em frente a eterna Eletrônica Silva (que deve ser mais velha que Capão, hehhe), um ou outro domicilio e só.
Ao longo dos anos foi nítido o crescimento urbano. Vieram prédios, comércios, pizzarias e do lado da minha casa construíram um supermercado. Este que todo ano mudava de nome e de dono. Era incrível.
Final de 2007 iria ter uma festa de fim de ano em uma balada famosa. Eu, meu irmão e um amigo nosso compramos convites.
No início da noite passamos as comemorações da virada com a família e o nosso amigo, conhecido como Sanduba, ficou de passar em nosso domicílio à 1h. Apareceu perto do horário combinado.
Fomos no carro do meu avô e na saída pedi para o meu pai deixar o cadeado para fora do portão, pois voltaríamos a hora que eles estivessem dormindo e com a chave em mãos não precisaríamos acordá-los.
Enfim, pé no acelerador e tomar cuidado com as tragédias do caminho. A primeira estava no próprio trajeto até o local do evento. A impressão que deu é que o Rio Grande do Sul estava todo lá na Paraguaçu! Parecia hora do rush das cidades grandes.Aquele engarrafamento que não se mexia, buzinas, gritos e lembro até de ter visto batida.
O ritmo era lento. Andava alguns centímetros..,,parava horas. Assim foi.
Já sentia a irritação dentro de mim. Passando os primeiros momentos de 2008 dentro de um carro, preso em um trânsito. Pior: sem expectativa de se livrar do problema.
Meu irmão estava no volante e visivelmente cansado daquela loucura encontrou um estacionamento, mais ou menos próximo à balada. Foi difícil se desvincilhar de alguns carros, mas Fred conseguiu chegar no estacionamento privado. Olhei no relógio e já eram 3h30! Sim, ficamos por volta de 2h30 no engarrafamento.
Caminhamos um bocado até a entrada do destino final e vimos a consequência de um trânsito louco: uma fila imensa para entrar!!
Já que estávamos no inferno, fomos encarar o diabo.
A fila até que andava, mas desordenada. O famoso empurra-empurra. Tentava caminhar e ia para um lado e para o outro, sentia a mão de um qualquer em mim, outro que se desequilibrava e caia em cima de mim. Um verdadeiro manicômio.
Após essas trapalhadas, consegui entrar no local. Entupido de gente!!Mal conseguia caminhar.
A festa era open bar. Fui até o bar pegar uma cerveja para relaxar e tentar curtir a noite. Claro, uma fila imensa para pegar bebida. Tinha que ir se enfiando até próximo de um barman e este olhar para ti e questionar seu pedido. Após várias tentativas, fui atendido. Ouço que a breja já havia acabado. Então, pedi um refrigerante. Não tinha também. Só havia champanhe. Não sou fã dessa bebida, mas já que só `tem tu vai tu mesmo'.
Peguei a minha taça de champanhe e antes de começar a beber, uma menina estava vindo na minha direção, tropeçou em alguma coisa, bateu em meu copo e derrubou o líquido na minha roupa inteira!!
Ela me pediu desculpas pelo incidente. Eu nervoso com tudo, apenas pedi educadamente, que seguisse seu rumo (mas no fundo já pensava: que mais falta acontecer hoje?). Que situação!
O próximo passo era encontrar um lugar para ficar. A balada tinha vários ambientes. Cada um tocava um tipo de música. Todos estavam lotados! Alguns não davam nem para entrar. Senão me engano, o de pagode era o menos entupido (não confundir com vazio). Era o único que dava para dar um passo sem esbarrar em alguém. Não sou fã do estilo, então não fiquei satisfeito em estar ali.
Após alguns minutos, já vi que eram por volta das 5h da manhã e olhei para o meu irmão e o meu amigo e decidimos que era hora de partir. Tive a sensação que não se aproveitou nada da noite.
Ainda pararam para comer um lanche. Eu sem fome, não me alimentei.
Em seguida deixamos o Sanduba em sua hospedagem e depois fomos para o nosso aconchego.
Chegando na garagem fui procurar o cadeado para abrir o portão e estava do lado de dentro!!! Já me subiu um sangue. Tava com sono,irritado e deixaram o cadeado do lado de dentro! A sorte era que o portão era de madeira em volta (sustentado por rodinhas) e no meio era composto por vários arames. Fui arrebentando alguns até que minha mão chegou confortavelmente ao cadeado e abri.
Ao descer do veículo meu pai apareceu e eu fui indagá-lo por qual motivo não cumpriu o nosso combinado. Ele apenas pedia silêncio, pois os meus avôs estavam dormindo. Se tem uma situação que irrita é quando você quer falar, gritar e a outra pessoa só pede que você permaneça quieto.
Após tentar três vezes falar com o meu pai e ele negar, peguei um molho de chave que estava na minha mão e atirei-o na mesa que ficava na sala. Fez um estouro!! Um barulho que deve ter acordado Capão da Canoa inteira! Meu pai e meu irmão apenas olhavam assustados com o fato.
Meu irmão perguntava se eu tinha bosta na cabeça. Repetiu isso umas três ou quatro vezes. Agora era eu que não queria conversa.
Nesse momento eu já estava no meu quarto e pronto para dormir. Abri o guarda-roupa para procurar os meus pijamas e nada. Procurei em outros cômodos da casa e nada. Quando fui até a lavanderia vi que tudo estava lavando!!
Depois disso, desisti e apenas me deitei. Lembro de ter que esperar mais de uma hora até a raiva passar, pegar no sono e esquecer essa noite trágica.
Observações:
1) Possivelmente foi a penúltima vez que passei o ano-novo nessa casa. Meu avô, que quem cuidada de fato do recinto, faleceu em 2009 e meses depois a casa foi vendida. Revi-la pela última vez em 2014. Abandonada. Hoje não sei como está. Se alguém alugou, se virou comércio (a tendência daquela região). Se alguém souber me avise.
2)No dia seguinte ao relatado acima, conversei com o meu pai e o perguntei sobre o cadeado. Ele disse que não havíamos combinado nada. Mas retruquei dizendo que lembrava de ter feito o pedido e ele concordado. Vai saber...
3)Um ano depois dessa noite, me recordo de ter encontrado Sanduba em um bar. Lembramos do episódio. Mas a impressão que ele passou é que apesar de alguns incômodos, aquele réveillon não foi tão ruim para ele como para mim.
4) Não sei se esse foi o pior réveillon da minha vida. Teve um que foi trágico também (2009 para 2010) e quem sabe um dia eu conte.
Vida que segue e feliz 2017.